Gostei muito deste texto de Domingos Pellegrini, leiam:
Ele chegou à praça com uma marreta. Endireitou a estaca de uma muda de árvore e firmou batendo com a marreta. Amarrou a muda na estaca e se afastou como para olhar uma obra de arte.
Não resisti a puxar conversa:
O senhor é da prefeitura?
Não, sou da Alice, faz quarenta e dois anos. Minha mulher.
Ah… O senhor quem plantou essa muda?
Não, foi a prefeitura. Uma árvore velha caiu, plantaram essa nova de qualquer jeito, mas eu adubei, botei essa estaca aí. Olha que beleza, já está toda enfolhada. De tardezinha eu venho regar.
Então o senhor gosta de plantas.
De plantas, de bicho, até de gente eu gosto, filho.
Obrigado pela parte que me cabe…
Ele sorriu, tirou um tesourão da cinta e começou a podar um arbusto.
O senhor é aposentado?
Não, sou desaposentado. Foi podando e explicando: Quando me aposentei, já tinha visto muito colega aposentar e murchar, que nem árvore que você poda e rega com ácido de bateria… Sabia que tem comerciante que rega árvore com ácido de bateria pra matar, pra árvore não encobrir a fachada da loja? É… aí fica com a loja torrando no sol!
Picotou os galhos podados, formando um tapete de folhas em redor do arbusto.
É bom pra terra… tudo que sai da terra deve voltar pra terra… Mas então, eu já tinha visto muito colega aposentar e murchar. Botando bermuda e chinelo e ficando em casa diante da televisão. Ou indo ao boteco pra beber cerveja, depois dormindo de tarde. Bundando e engordando… Até que acabaram com derrame ou enfarte, de não fazer nada e ainda viver falando de doença.
Cortou umas flores, fez um ramalhete:
Pra minha menina. A Alice. Ela é um ano mais velha que eu, mas fica uma menina quando levo flor. Ela também é desaposentada. Ajuda na escola da nossa neta, ensinando a merendeira a fazer doce com pouco açúcar e salgados com os restos dos legumes que antes eram jogados fora. E ajuda na creche também, no hospital. Ihh… A Alice vive ajudando todo mundo, por isso não precisa de ajuda, nem tem tempo de pensar em doença.
Amarrou o ramalhete com um ramo de grama, depositou com cuidado sobre um banco.
Pra aguar as mudas eu tenho que trazer o balde com água lá de casa. Fui à prefeitura pedir pra botarem uma torneira aqui. Disseram que não, senão o povo ia beber água e deixar vazando. Falei pra botarem uma torneira com grade e cadeado que eu cuidaria. Falaram que não. Eu teria que ficar com o cadeado e então ia ser uma torneira pública com controle particular, e não pode. Sorriu, olhando a praça.
Aí falei: então posso cuidar da praça, mas não posso cuidar de uma torneira? Perguntaram, veja só, perguntaram se tenho autorização pra cuidar da praça!!! Nem falei mais nada. Vim embora antes que me proibissem de cuidar da praça… Ou antes que me fizessem preencher formulários em três vias com taxa e firma reconhecida, pra fazer o que faço aqui desde que desaposentei… Tá vendo aquele pinheiro fêmea ali? A Alice que plantou. Só tinha o pinheiro macho. Agora o macho vai polinizar a fêmea e ela vai dar pinhões.
Eu nem sabia que existe pinheiro macho e pinheiro fêmea.
Eu também não sabia, filho. Ihh… aprendi tanta coisa cuidando dessa praça! Hoje conheço os cantos dos passarinhos, as épocas de floração de cada planta, e vejo a passagem das estações como se fosse um filme!
Mas ela vai demorar pra dar pinhões, hein? – falei, olhando a pinheirinha ainda da nossa altura. Ele respondeu que não tinha pressa.
Nossa neta é criança e eu já falei pra ela que é ela quem vai colher os pinhões. Sem a prefeitura saber … e a Alice falou que, de cada pinha que ela colher, deve plantar pelo menos um pinhão em algum lugar. Assim , no fim da vida, ela vai ter plantado um pinheiral espalhado por aí. Sem a prefeitura saber, é claro, senão podem criar um imposto pra quem planta árvores…
É admirável ver alguém com tanta idade e tanta esperança!
Ele riu:
Se é admirável eu não sei, filho, sei que é gostoso. E agora, com licença, que eu preciso pegar a Alice pra gente caminhar. Vida de desaposentado é assim: o dinheiro é curto, mas o dia pode ser comprido, se a gente não perder tempo!
Achei muito interessante essa reportagem. Gosto de leituras que valorizam o envelhecimento. Vocês sabiam que o Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC) e o Instituto Mauricio de Sousa acabam de firmar uma parceria que irá viabilizar a produção de uma revista com personagens da Turma da Mônica com o intuito de sensibilizar crianças e adolescentes sobre envelhecimento, inclusão e solidariedade?
Para saber mais detalhes sobre como esse projeto será conduzido, recomendamos a leitura do texto disponível no site do Portal do Envelhecimento e Longeviver, intitulado “Turma da Mônica sensibilizará crianças e adolescentes sobre envelhecimento”.
Durante este meu período de planejamento para me mudar para Portugal, depois dos 60 anos… pesquisei sobre vários assuntos. Sobre o custo de vida, considerando desde onde iria morar, suas despesas gerais até sobre a minha formação, me informando como fazer para revalidar meu diploma. Confesso que aposentada, não tinha certeza se gostaria de trabalhar ainda por lá ou estudar. Mas queria deixar tudo organizado para poder fazer minhas escolhas com mais autonomia e segurança.
Acompanho muito o site da Eurodicas, e compartilho com vocês algumas reportagens, como está agora 👀 de Marcos Freire. Muito bom. Importante saber que eu quero estar aberta para novas experiências, fazer muitas descobertas com uma melhor qualidade de vida. Mas, com atenção a como são as coisas por lá. Estou atualmente organizando minha papelada escolar, muitas empoeiradas, até esquecidas… se tornando vivas novamente. Me reiventando dia a dia, ousando me mudar depois dos 65 anos, bem planejado… tudo isto para ficar mais perto de meus filhos que moram na Europa: Paris e Londres.
Leiam: Quem já leu meus outros artigos, (especialmente o primeiro deles, onde conto um pouco sobre o nosso processo de mudança para Portugal) sabe que quando cheguei aqui na terrinha já tinha mais de 50 anos de idade e era (e ainda sou) totalmente ativo profissionalmente. Ou seja, não viemos como aposentados (ou reformados, como dizem por aqui). Ao contrário, queria muito trabalhar, tanto por prazer pessoal quanto por necessidade mesmo. Aliás, não dizem que os 50 são os novos 30 ou 40 anos?
Então, os “cinquentões” ainda tem muito a produzir, a criar, a ensinar e a aprender no mercado de trabalho. Mas, é fácil se inserir no mercado de trabalho partindo praticamente do zero? Não, não é. Quem sabe minha trajetória profissional (e a de outros imigrantes com quem eu convivo e que estão na mesma faixa etária) possam ajudar ou dar alguns caminhos para aqueles que também querem emigrar com mais de 50 anos de idade.
Saiba como foi mudar para Portugal com mais de 50 anos
Claro que vale repetir: minhas escolhas talvez não façam sentido para todos. Meus receios podem não ser os mesmos de outras pessoas. Os sapos que decidi engolir podem não passar por outras gargantas. Minhas alegrias igualmente podem não fazer nem cócegas em outros corações.
Mas a mensagem é a seguinte: sempre é tempo para reescrever uma nova história de vida e não há receita única. E Portugal pode realmente ser um lindo cenário para as novas experiências.
Portugal tem uma grande população acima de 50 anos de idade
Ninguém precisa se sentir deslocado por ter 50 anos ou mais quando chega em Portugal. O país já é um dos que tem a idade média mais alta de toda a comunidade europeia. Dados oficiais mostram que 22,1% da população portuguesa tem mais de 65 anos de idade, praticamente empatado com Grécia e Finlândia (ambos com 22,3%), todos os três perdendo apenas para a Itália (23,2%).
Há 20 anos, esta faixa etária da população portuguesa ficava em torno de 16% do total, o que mostra como o envelhecimento tem sido muito maior do que o número de nascimentos.
Se considerar a faixa etária a partir dos 50 anos, este grupo populacional representa mais de 40% de todas as pessoas que vivem no país.
Neste ritmo, a projeção é que Portugal passe a ser o país mais “envelhecido” da Europa por volta de 2050, praticamente empatado com Grécia e Itália, todos com quase 34% da população passando dos 65 anos de idade.
Muita gente acima de 50 anos no mercado de trabalho
Logo que chegamos, fiquei encantado com a quantidade de pessoas mais velhas trabalhando. Via isso sob a ótica de que era positivo existir um mercado de trabalho aberto a essa faixa etária.
Professores e professoras do meu filho eram mais velhos, funcionárias da escola eram mais velhas, motoristas de táxi eram mais velhos.
Senhoras vendendo peixe nas suas barracas na calçada, outras tantas no mercado municipal, alguns varrendo a rua, caixas de supermercado, balconistas nos cafés, garçons nos restaurantes e por aí vai.
Não deixa de ser positivo, mas hoje já vejo que tinha uma certa miopia e muito romantismo nesse meu deslumbramento.
Trabalhar é importante, sem dúvida, mas muitos daqueles que estavam ainda pegando pesado em trabalhos bem operacionais preferiam estar com a vida mais tranquila.
Talvez cuidando dos netos, da horta, passeando ou até mesmo viajando. Ou seja, não trabalhavam porque queriam, mas porque ainda precisavam, mesmo já tendo dedicado algumas décadas da vida ao trabalho.
Idade para aposentadoria em Portugal
Hoje, a idade normal para pedir a reforma é aos 66 anos e 6 meses de vida.
A idade é ajustada a cada ano (dependendo de variações, por exemplo, na expectativa de vida da população) e ao menos 15 anos de contribuição para a Seguranca Social. Mas quem não conseguiu guardar regularmente algum dinheiro ao longo da vida de trabalho terá certa dificuldade com os valores baixos, na média, pagos aos reformados.
Acompanho com frequência as postagens no LinkedIn, a rede de contatos profissionais, e vejo muitas discussões sobre a dificuldade de os profissionais com mais de 50 anos se recolocarem nas grandes empresas do Brasil, mesmo tendo ótimos currículos.
E o olha que nosso país é sede de muitos e imensos grupos empresariais, além de ter também inúmeras médias e pequenas empresas.
Quando olhamos para Portugal, vemos que o mercado de trabalho é o realmente muito menor, até mesmo pelo tamanho do país e da população. Além disso, algumas das multinacionais que atuam na Península Ibérica tem seus maiores escritórios cruzando a fronteira, na Espanha, de onde gerem os negócios. Muitas mantém escritórios ou representações menores em Portugal.
Mas, claro, há também grandes grupos empresariais portugueses, grandes profissionais e um mercado dinâmico. E uma grande vantagem: enquanto o desemprego no Brasil gira em torno de 14%, em Portugal fica mais ou menos na metade disso.
Também existem dificuldades no mercado de trabalho português
Mas a dificuldade não é apenas por já termos 50 anos ou mais. Há algo que funciona por aqui exatamente como no Brasil: rede de relacionamento!
E isso, para quem está chegando em um país novo, é uma grande desvantagem. Mesmo que alguns contatos já tenham sido feitos quando ainda estavam no Brasil, os brasileiros que chegam aqui em busca de alguma oportunidade vão sentir bem o peso de ter que começar uma nova rede de contatos no campo profissional.
Por aqui, ter uma boa “cunha” (o que para nós é aquele amigo ou conhecido que pode abrir algumas portas ou dar aquele “empurrãozinho”) ajuda bastante.
Por mais que as empresas estejam abertas a receber os currículos por email ou pelo website, quando a indicação vem de alguém conhecido o peso é realmente muito maior. E quando se tratam de empresas menores, muitas delas familiares, ter alguém que indique faz toda a diferença.
Ter uma rede de contatos facilita a busca
Na prática, nada de ficar em casa mandando o CV pela internet a espera de algum retorno. Até pode ser que funcione, mas o negócio é mostrar a cara, literalmente.
Tanto vale deixar o CV pessoalmente em locais onde se pretende buscar uma oportunidade. Pode ser no hotel em que acha que pode ter uma vaga, na fábrica, no restaurante, no café, no bar, na loja. Puxar conversa com as pessoas e mostrar que tem interesse em trabalhar ajuda bastante no primeiro momento.
Nas cidades menores o processo pode ser mais fácil
Em uma cidade pequena, a estratégia funciona ainda mais. Todos costumam ser bem receptivos, pois sabem a importância do trabalho.
O motorista de táxi pode dar dicas, a caixa do supermercado talvez saiba onde estão precisando de gente, e assim por diante. Uma boa caminhada pela cidade, mesmo nas grandes, pode oferecer um mundo de oportunidades. Mantenha os olhos abertos para ver nas montras (as nossas vitrines) os cartazes pedindo colaboradores.
Claro que as grandes empresas ou multinacionais não vão contratar gerentes ou diretores com cartazetes na porta, mas para elas também vale a rede de relacionamento.
Falo com experiência de quem, por via das dúvidas, já mandou currículos para praticamente todos os grandes grupos portugueses, simplesmente utilizando a tradicional aba “Trabalhe conosco” dos sites, sem receber, na maioria dos casos, qualquer retorno.
Ou, apenas aquele retorno do tipo “Obrigado, mas seu perfil não se encaixa nas oportunidades que temos”. E tudo bem, isso também faz parte do jogo.
Equivalência do diploma em Portugal
Quando decidimos mudar de país, veio conosco o desejo de também buscar coisas novas no campo profissional. Talvez por justamente já ter mais de 50 anos e ter me sentido realizado profissionalmente em vários momentos ao longo da carreira, não me preocupei muito em continuar apenas na mesma trajetória, na mesma área, fazendo as mesmas coisas.
Claro que isso é um sentimento muito particular e entendo perfeitamente aqueles que chegam como engenheiros ou advogados por exemplo, e buscam seguir avançando aqui exclusivamente na mesma carreira.
Talvez por esse meu “desapego” profissional, deixei de fazer algo que pode tornar a vida um pouco mais difícil: pedir a equivalência do diploma universitário. Ou seja, meus diplomas de Jornalismo pela PUC-SP, de Administração pela FGV-SP, e de MBA pela Fundação Dom Cabral pouco valem por aqui.
Mas nunca deixei de trabalhar por causa disso. Porém, claro, foram em áreas e circunstâncias em que os diplomas não foram necessários.
Validar seu diploma é fundamental
Uma vez, pouco depois de ter chegado por aqui, estive no Centro de Emprego e Formação Profissional, uma instituição que apoia os desempregados, dá orientação sobre o mercado de trabalho, oferece cursos de formação e aperfeiçoamento.
Queria entender melhor esse novo ambiente em que eu estava chegando e me cadastrar. Quando preenchi meu cadastro, pediram minha formação e eu, todo orgulhoso, soltei tudo o que tinha feito.
Para eles, sei ler e escrever (pensei em dizer que também era bom de tabuada, mas achei que não ia ajudar). Não posso criticar, pois eu não fiz – ainda – a minha “lição de casa”.
Muita atenção ao reunir a documentação necessária
Por isso, dependendo do que pretende fazer profissionalmente em Portugal, lembre de colocar na bagagem toda a documentação necessária para acertar os seus diplomas, o que inclui até mesmo o seu histórico escolar do ensino médio, aquele que você, se já tiver passado dos cinquenta anos de idade, terminou há mais de 30 anos. E “apostilar”, para ter validade lá.
Vale lembrar também que há uma série de profissões em que há acordos com as entidades que representam as categorias profissionais (como OAB e CREA), o que pode tornar tudo mais fácil. Embora esteja ocorrendo algumas mudanças, importante se informar sobre a situação atualizada lá no país. Tudo deve ser apostilado.
Podemos mais do que imaginamos
Darwin já dizia que sobrevivem aqueles com maior capacidade de adaptação, não obrigatoriamente os mais fortes.
Chegar em um novo país e seguir firme nesta nova vida é realmente um grande experimento “darwinista”. Já cruzei com gente muito confiante, forte, mas cheia de restrições do tipo “isso eu não faço” ou “só trabalho na minha área”.
E esses tendem a ser os primeiros a desistir da ideia de uma vida realmente nova. Tirando, naturalmente, coisas que vão de encontro aos nossos princípios morais e éticos, estar aberto ao novo (principalmente para quem tem mais de 50 anos) pode ser a linha que separa o sucesso do fracasso nesta empreitada.
O lado bom de encarar os novos desafios e apostar na resiliência: descobrimos que somos bons em muita mais coisas do que imaginávamos e que também gostamos e nos divertimos com atividades que até então pareciam nem passar por perto do nosso repertório. É quase como aquele prato que não gostamos de comer, sem nunca ter experimentado. Um dia, na casa de alguém, com certa cerimônia, acabamos comendo e até gostando.
Ou quando a fome aperta e a gente descobre que está num pequeno restaurante de estrada, no meio da noite, e que provavelmente não terá nada aberto até o dia seguinte. Comemos e ainda fica aquela sensação de que “até não é tão ruim assim”.
Encarando novas experiências
Desde que cheguei, vim disposto a abrir meu leque de opções profissionais. Descobri a hotelaria, trabalhei em café e em fábrica.
Confesso que me diverti muito em todas essas experiências. Serão novas carreiras? Vou crescer do ponto de vista de cargos? Provalvelmente não. Mas, como disse, não é isso que me move hoje.
Simplesmente fui me adaptando e encaixando o que eu já tinha de habilidades às novas demandas que foram surgindo. E tudo isso sem “trair” meu amor pela comunicação, pois continuo a escrever (você está lendo esse artigo, não?), criando conteúdos para redes sociais, colaborando pontualmente com agências de comunicação no Brasil.
E assim como eu, há outros brazucas “cinquentões” (ou até mesmo na casa dos 60, 70 anos) que se reinventam, decidem empreender. Há lojas de roupas e pratas, cafés, um variado comércio (virtual ou físico) de coxinhas, pão de queijo, pizza, feijoada, produtos brasileiros em geral. Todos com nossos conterrâneos, tanto no atendimento quanto na gestão.
Os que vão para as fábricas, dirigem caminhões (os “pesados”, como se diz por aqui), e que vão ter contato direto com o público nos cafés e nos restaurantes (diga-se de passagem que o jeito mais expansivo do brasileiro casa muito bem com os cafés e restaurantes), vão vender imóveis. São diversas as possibilidades!
“Ah, mas eu sou engenheiro formado pelo ITA e quero uma oportunidade na minha área”. Ok, vale tentar sim. Mas não deixe de olhar para tantas portas que se abrem e que podem parecer tão “nada a ver” e que, no final, nos realizam tão ou mais do que o modelo ao qual estávamos acostumados.
Nem tudo é trabalho
Claro que trabalhar é importante, principalmente se você não tem uma fonte de renda no Brasil que, dividida por mais de seis, possa te dar o conforto que você quer aqui na Europa. Nunca é demais lembrar que aqui gastamos em euros. Mas nem tudo gira em torno do trabalho, felizmente.
E para nós, os 50+, Portugal tem muito a oferecer. Nem vou falar sobre segurança, tranquilidade, porque teria pouco a acrescentar a tudo que é falado em todos os sites e portais, por exemplo. Mas a tranquilidade e a segurança fazem realmente a diferença para que tenhamos vontade de fazer uma série de coisas que, por receio ou medo, fomos deixando de lado no Brasil.
Posso falar com conhecimento de causa sobre andar de bicicleta, por exemplo. Eu já estou mais para os sessenta do que para os cinquenta e adoto a bicicleta para praticamente tudo o que faço. Do trabalho ao supermercado, dos passeios pela cidade até às pedaladas mais longa para conhecer o país. Já pedalava no Brasil, é verdade, mas aqui a sensação de segurança é muito superior. Vivo numa cidade pequena, o que ajuda.
Talvez, para a turma de Lisboa e do Porto, os cuidados tenham que ser maiores, mas os riscos estão bem longe daqueles de São Paulo. Aos finais de semana, principalmente, cruzo com pelotões de ciclistas na beira da estrada, grande parte deles já com cabelos brancos.
Os cafés na praia do Furadouro, perto de casa, ficam cheios de bikers. Vez ou outra ponho a magrela no comboio e vou até o Porto, para depois voltar pedalando para casa, sempre cruzando com “velhinhos” sobre duas rodas.
Qualidade de vida no dia a dia
No dia a dia é a mesma coisa: senhoras de bicicleta indo trabalhar no hotel, outras indo ao mercado, muitos avós e avôs indo buscar os netos na escola na companhia da bicicleta. Sem contar os mais aventureiros que viajam de bike.
Há pequenos grupos de holandeses, alemães, espanhóis e mesmo de portugueses (todos com mais de 50 ou 60 anos) que costumam pernoitar no centro da cidade como parte do roteiro que se inicia no Porto e, para os mais corajosos, pode terminar em Lisboa.
Ah, para quem não se sente seguro para se equilibrar nas magrelas, há um projeto muito interessante em algumas cidades de Portugal, o “Pedalar sem idade“.
E não é só pedalando que a gente se diverte por aqui. Caminhar é outra daquelas atividades que fazemos em Portugal com muito mais leveza e tranquilidade.
Ninguém vai pular no seu pescoço para roubar seu celular, por exemplo. Conhecer Portugal andando é um grande prazer. E nós, os velhinhos, estamos por todos os lados. E não falo apenas dos turistas. Os compromissos da rotina diária, principalmente nas cidades menores, podem ser encarados sem necessidade do carro. As distâncias são menores, é tudo perto.
Sem contar que eu não me canso de olhar encantado para a cidade onde moro, mantendo aquela sensação de quem está vendo pela primeira vez aquelas casas com fachadas azulejadas.
E no Porto, então? Quem desce lá da Universidade do Porto, passando pela livraria Lello, se deslumbrando com a estação São Bento, caminhando pela rua das Flores (com direito a um café com pastéis de nata), se perdendo nas vielas até chegar à ribeira do Douro vai cruzar pelo caminho com muita gente mais velha, andando sem preocupação com segurança, desfrutando as belezas da cidade (e pra descer, todo santo ajuda…).
É possível aproveitar Portugal de diversas formas
Portugal tem isso de bom. É tudo muito perto, o que também favorece as viagens curtas, muitas vezes de bate-e-volta no mesmo dia. Esses pequenos passeios fazem parte da nossa rotina e sempre vejo pessoas mais velhas nos parques que conheço, nos novos restaurantes que vou experimentar, nos centros históricos, nos museus.
Vale ressaltar que o preço dos combustíveis e dos pedágios (portagem, como fala-se aqui) não é dos mais baixos, o que também torna as viagens curtas mais vantajosas.
Cultura acessível por toda parte
Do ponto de vista cultural, as atrações são inversamente proporcionais ao tamanho do país. É incrível a quantidade de coisas que se pode fazer por aqui. E a maior parte das atividades tem preços reduzidos ou são gratuitas para os que tem pelo menos mais de 60 anos. Cidades como Lisboa e Porto reúnem os principais equipamentos culturais, é verdade, mas mesmo os concelhos menores possuem seus teatros, museus e centros de cultura.
Quem vem de uma cidade como São Paulo, como eu, sente um certo baque inicial. Mas aos poucos vai descobrindo todas as possibilidades que a cidade oferece. Os grandes shows e espetáculos não estarão, de modo geral, nos menores municípios. Mas nada que um passeio de comboio não resolva. Falo da minha própria experiência: já pegamos o trem para assistir a um concerto que queríamos muito em Lisboa e foi divertidíssimo.
Mas para não dizer que tudo é perfeito para nós, os mais velhos, outro dia resolvi que queria ser bombeiro voluntário. Fazia parte daquela ideia de abrir horizontes, de ter novas experiências. E sempre achei a profissão de bombeiro muito linda. Mas não deu. A idade máxima é de 45 anos.
Então, se pretende emigrar com mais de 50 anos, venha. Vai conseguir trabalhar, se divertir e ter uma vida mais segura e mais calma. Pode se divertir muito. Só não vai conseguir é ser bombeiro.
By Marcos Freireé jornalista e vive com a família em Ovar há 5 anos.
A maior aventura de um ser humano é viajar. E a maior viagem que alguém pode empreender. É para dentro de si mesmo. E o modo mais emocionante de realizá-la é ler um livro. Pois um livro revela que a vida é o maior de todos os livros. Mas é pouco útil para quem não souber ler nas entrelinhas. E descobrir o que as palavras não disseram…
Quero compartilhar com vocês, uma crônica, que gostei muito.
Hoje me senti claramente dividida em duas metades. Metade pelo que já fui e metade pelo que sou agora. Me senti metade filha, metade mãe.
Estranhamente me senti inteira na metade filha. Não sou mais filha de alguém. Sou órfã adulta, metade lembrança, metade saudade. Não tenho um futuro a construir nas relações familiares filiais. Tenho apenas referências, boas ou más, mas a fase filha virou história.
Minha outra metade é mãe. Nesta estou inteira também e espero que meus filhos fiquem órfãos de mim em um tempo muito distante de hoje e, certamente, que eu jamais fique órfã deles.
Me senti metade porque por mais que acreditasse conhecer o passado da minha mãe, suas angústias e alegrias, textos e poesia, entendi que nada sei. Descobri que há muito para descortinar que percebo que não terei o tempo e força necessários para tanto.
Me senti metade cópia, metade original. Uma cópia inteira que o espelho revela todos os dias, quer eu queira quer não, nas feições e no físico. E uma imagem inteira, pois completamente diferente quando analisado em gênio e personalidade.
Me senti metade amiga, metade companhia. Me senti metade filha, metade impostora. A filha muitas vezes amiga, com tantas afinidades e assuntos para conversar; outras tantas apenas companhia como se comigo fosse calmo esperar o dia a passar.
A metade filha foi intensa. Intensa em desfazer a imagem perfeição com que ela me descrevia para os demais. Intensa em tentar ser a perfeição com que ela me descrevia para os demais.
A metade impostora me veio como se, no momento desta descoberta, eu intuísse que não fui digna de uma confiança que sei não nos faltou. Ao contrário, confiança sempre foi um valor ímpar em nossa educação e de um modo inigualável sempre tivemos uns nos outros. E, só de pensar numa situação assim, já seria um ato de extrema traição.
Ela me educou para ser inteira, ainda que aos pedaços. Inteira ainda que as metades se contradigam. Inteira por mais que dividida em vários papéis – mãe, irmã, esposa, divorciada, viúva, profissional ou aposentada, não importa. Ela desejava e exigia de mim que eu fosse independente, incomum e única e que, principalmente, reconhecesse em mim a unidade ser-luz-espírito para um dia, ainda que me sentindo em frangalhos, eu esteja certa que permanecerei sempre inteira.
*Publicado no site osegredo.com.br em 14/05/2017 – Sendo inteira
Está nas mãos do presidente da República a decisão sobre uma alteração na lei que beneficia os imigrantes no processo de obtenção da nacionalidade portuguesa.
O Parlamento aprovou no dia 5 de janeiro uma série de alterações à Lei da Nacionalidade, com destaque para um ponto: pela proposta, os cinco anos necessários para comprovar a residência em Portugal — condição legal para solicitar a nacionalidade — passará a ser contado a partir do momento em que é solicitado o título de residência.
O presidente Marcelo Rebelo de Sousa possui o prazo legal de 20 dias para analisar a proposta e promulgar, ou não, a nova lei. Contando que, pela tramitação regular, a proposta chegue para o presidente nos próximos dias, a expectativa é que até meados de fevereiro haja uma posição final do governo português.
Se não for aprovada, regra atual alonga a espera pela cidadania
Hoje, a regra determina que o prazo de cinco anos só começa a ser contado quando o título de residência é emitido. Como há casos em que o título só chega depois de mais de dois ou três anos da solicitação, o interessado em entrar com o pedido de nacionalidade acaba, na prática, esperando por volta de sete a oito anos para conseguir pleitear o direito à cidadania portuguesa.
“[…] para os efeitos de contagem de prazos de residência legal previstos na presente lei, considera-se igualmente o tempo decorrido desde o momento em que foi requerida a autorização de residência temporária, desde que a mesma venha a ser deferida.”
De acordo com advogados e juristas ouvidos pela imprensa portuguesa, a medida corrige uma injustiça, uma vez que o imigrante era penalizado por conta, exclusivamente, da demora da administração pública.
Isto porque, ao dar entrada no pedido de residência, o imigrante já forneceu toda a documentação necessária.
Ou seja, a partir do momento em que a manifestação de interesse (MI) é aceita pelas autoridades portuguesas, o imigrante — que já terá apresentado número de contribuinte, inscrição na segurança social, no contrato de trabalho ou outros documentos — fica aguardando apenas a tramitação do processo, mas já trabalhando e contribuindo para a economia, por exemplo.
E se ele não pode considerar esse período na contagem de tempo, conforme a regra atual, os anos de espera são praticamente um período “morto”.
Brasileiros lideram petição para governo mudar a lei
A mudança na legislação era um pedido que vinha sendo feito há algum tempo por entidades que representam os imigrantes, não apenas brasileiros em Portugal. E uma das vozes importantes neste processo foi a da brasileira, Juliet Cristino, que conseguiu um grande número de assinaturas em uma petição publica e acabou tendo o pleito levado para o parlamento português.
“Existem pessoas que ficaram quatro anos a espera de vagas para fazer a entrevista no SEF para ter o título de residência, por culpa da própria instituição, que não tinha vagas”.
E complementa: “Quando esta pessoa for dar entrada no processo de nacionalidade, esses quatro anos ficaram perdidos. Pedimos que nos ajude a fazer essa correção, pois não é negligência do imigrante”, afirmou Juliet no documento apresentado aos parlamentares.
Mais de 70 mil pedidos de cidadania em 2022
De acordo com dados mais recentes do agora extinto Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), hoje substituído pela AIMA, o ano de 2022 registrou 74.506 pedidos de aquisição de cidadania, um crescimento de mais de 37% em relação a 2021.
Cidadãos de Israel e Brasil lideram os pedidos de cidadania, seguidos pelos nacionais de Cabo Verde, Venezuela e Angola.
Espera continua longa para quem já pediu a cidadania
Vencida a etapa do prazo legal de cinco anos de residência no país para dar entrada no pedido de cidadania portuguesa por tempo de residência, o passo seguinte também tem se mostrado bastante demorado.
Após dar entrada na solicitação, o interessado pode acompanhar todas as etapas por meio do portal da Justiça. Com a senha de acesso ao portal, é possível acompanhar o andamento do processo, até o registro final.
Um pedido de nacionalidade segue os seguintes passos:
• Recepção do pedido, numa conservatória, consulado ou por correio;
• Registo do pedido;
• Consulta a entidades externas;
• Verificação da documentação entregue;
• Análise de que todas as condições legalmente previstas estão reunidas para conceder a nacionalidade;
• Decisão sobre a atribuição ou não da nacionalidade;
• Registro do novo cidadão português no Registo Civil de Portugal ou arquivamento do processo.
Processos têm demorado cerca de dois anos
Segundo as informações do próprio sistema, os prazos atuais para todas as etapas são de 24 a 29 meses, desde a entrega do pedido de nacionalidade até o registro final, caso os pedidos apresentem todos os documentos necessários e o requerimento tenha sido corretamente preenchido.
Estes prazos serão mais longos se o processo não estiver completo e correto desde o início e se for necessário pedir documentação complementar.
Pedidos de menores de idade, filhos de pai português ou mãe portuguesa e declarados diretamente pelos pais, são tratados com prioridade, com o tempo de análise e decisão de até 4 meses.
Texto escrito por Marcos Freire, que é jornalista e vive com a família em Ovar, uma pequena e simpática cidade que fica no meio do caminho entre Porto e Aveiro, há 5 anos.
“Meus pais pediam insistentemente, para eu levá-los de volta para casa. Papai nunca saiu de sua casa, mas a casa saiu dele. Mamãe morava comigo, mas nunca saiu daquela casa, que ela sonhava retornar. Aos poucos eu fui entendendo o que significava “voltar para casa”. Eles querem resgatar a casa que um dia abrigou Felicidade, na verdade eles queriam voltar para aquela Felicidade. Não era a casa de tijolos e portas, janelas e piso rangendo. Era a casa que abrigava o barulho das crianças brincando, o cheiro de café e o gosto de bolo de fubá; o perfume do travesseiro que guardava seus segredos; o cheiro do bife que só mamãe sabia preparar; o perfume do dia de limpeza e o cheiro da pipoca. A casa era a maçaneta da porta rangendo, quando papai voltava do trabalho; ou o pano de chão sobre o tapete, que mamãe insistia em colocar para manter o tapete limpo. A casa para onde eles querem voltar é feita dos detalhes da torneira pingando, que papai adorava consertar; do batente arranhado pelas escaladas das crianças inquietas; é a casa que abrigou o sonho de família, de felicidade, de prosperidade; a casa paga em muitas prestações, e cada uma delas tinha um gosto de vitória… Eles querem morar naquela felicidade, e eu também.”
Quando leio um texto deste, me emociono… perdi as contas de quantas vezes eu também quis voltar pra casa. Aquela casa!!! A casa da minha infância.., a casa da minha adolescência… a casa de quando me casei… a casa que construí e passei bons momentos da infância de meus filhos, onde vi eles crescerem, se formarem, se casarem, criarem asas e bater longe, indo para outras culturas, outros mundos 🌎. A casa do meu segundo casamento… das nossas reconstruções de família e vida.Tempo bom! Tempo que não volta mais, resta agora so as lembranças e a saudade, mas uma saudade alegre e recheada de amor de afeto. Por isso senti cada pedacinho da casa em cada momento de minha vida. Ao envelhecermos isto tudo aflora e se torna mais vivo. Boas lembranças que preenchem minha alma de histórias de vida!”
By Míriam Morata – autora de Alzheimer diário do esquecimento, Alzheimer recolhendo os pedaços e Alzheimer Assombro e Cura do Cuidador.
“A capa da Vogue filipina emocionou o mundo. Há nela uma “miúda” de 106 anos! A melhor capa de todos os tempos.”
“Envelhecer.. (Em defesa da Mulher) Dizem que, a partir de uma certa idade, nós as mulheres ficamos invisíveis. Que a nossa atuação na cena da vida diminui e que nos tornamos inexistentes para um mundo onde só cabe o impulso da juventude. Honestamente, não sei se me tornei invisível para o mundo, é possível que sim. Porém nunca fui tão consciente da minha existência como agora, nunca me senti tão protagonista da minha vida e nunca desfrutei tanto cada momento da minha existência. Descobri que não sou uma princesa de contos de fadas e descobri o ser humano sensível e também muito forte que sou, com as suas misérias e as suas grandezas. Descobri que posso permitir-me o luxo de não ser perfeita, de estar cheia de defeitos, de ter fraquezas, de me enganar, de fazer coisas indevidas e de não corresponder às expectativas dos outros. E apesar disso… Gostar de mim! Quando me olho ao espelho e procuro quem fui… sorrio àquela que sou… Alegro-me do caminho percorrido, assumo as minhas contradições. Sinto que devo saudar com carinho a jovem que fui, mas deixá-la de lado porque agora atrapalha-me, o seu mundo de ilusões e fantasias já não me interessa. Na verdade, é bom viver sem ter tantas obrigações e não ter de sentir um desassossego permanente causado pela necessidade de correr atrás de tantos sonhos. A vida é tão curta e a tarefa de vivê-la é tão difícil, que quando começamos a aprendê-la, já é hora de partir.”
Estou sempre pesquisando assuntos interessantes na Europa, mas especificamente em Portugal… sobre diversos assuntos. Agora sobre fazer uma especialização ou mestrado em 🇵🇹. Adoro o site do Erick, da Eurodicas, pra quem está querendo saber mais e só ler este artigo:
Mas Erick, eu não sou nenhum jovenzinho para estudar!
E quem disse que precisa ser? Ninguém!
Você pode solicitar um visto de estudante para fazer uma faculdade, uma pós-graduação, um mestrado, MBA, doutorado e até cursos técnicos, gente!
É o caminho mais simples para conseguir morar legalmente na Europa.
Mas é muito complicado tirar esse visto, Erick? Fica muito caro?
Segue o fio que te explico!
Como é tirar o visto de estudante para a Europa
É claro que cada país tem suas particularidades na hora de tirar o visto de estudante.
Mas, de forma geral, se você tiver a comprovação de que vai estudar em alguma instituição na Europa, poderá usar para dar entrada no seu visto ainda no Brasil.
Aí existem diversas opções para você conseguir esse documento, seja um programa de uma Universidade ou até um curso de línguas.
E o valor do visto?
O valor não costuma ser nada absurdo.
O visto de estudantes para Portugal, por exemplo, custa em torno de R$600,00.
Mas, para saber sobre duração do visto, requisitos, onde você pode solicitar e até se pode trabalhar com ele, vou te dar uma bela ajuda.
Estamos com uma lista de artigos atualizados, com tudo que você precisa saber, sobre visto de estudante em diferentes países da Europa.
Então confere lá que tá tudo mastigadinho para vocês!
Gosto de ler, ver e ouvir sobre as experiências das pessoas, que imigraram para fora do país. Estou sempre de olho nestes artigos. Um dos que acompanho bastante é o blog da Eurodicas.
Já comentei aqui que tenho filhos que moram fora do Brasil: em Londres, Miami e Paris. Já faz mais de 5 anos! Bom e ruim rsrsrs… é difícil ficar tanto tempo sem vê-los, brincar com meus netos, ver eles crescerem a distância… e deixar de participar de celebrações importantes que acontecem tanto aqui como. Ao mesmo tempo, sempre aproveito muito, quando viajo para ficar com eles e conheço lugares novos lindos, quando vou visita-los e fico por lá, em suas casas, um tempo razoável pra matar as saudades… e renovar as nossas energias… a espera de uma próxima vez, de nos encontrarmos.
Eu, aposentada, vivo de malas prontas… pra lá e pra cá. Atenta de olho nas necessidades deles e no preço das passagens. O tempo vai passando, vamos envelhecendo, o custo das passagens cada vez são mais caro, a guerra e os conflitos, que nos dão tanto medo, rodeando bem pertinho… fora que cada vez fica tudo mais difícil e a saudade, só aumenta.
A pandemia, me fez repensar muito e criar coragem, para ousar “mudar de país”, para ficar mais perto deles! Tomei a decisão já a algum tempo de me mudar para Portugal, e venho planejando bastante esta mudança… tudo para mais perto deles. Família, juntos!
Não quero ser uma avó só de telinhas 😉. Quero brincar, paparicar e criar vínculos afetivos com muitas histórias de vida, com todos eles, para que se lembrem de quão bom era nosso tempo juntos. Quero viver ao vivo e as cores… tudo intensamente. A vida passa muito rápido. Voa! O tempo é uma das nossa maiores preciosidades!
Leiam este texto (Eurodicas) de Nathane Costa, uma jovem, que já mora fora do país há algum tempo, e nos conta sobre suas experiências e do que mais sente saudades do nosso país, o Brasil.
É domingo, meio-dia e você sente o cheiro da feijoada no fogão e do arroz refogado no alho para o almoço. A playlist de pagode e axé está tocando no Spotify. E basta isso para você imaginar algumas coisas que todo brasileiro sente falta ao morar no exterior.
Morar fora é uma escolha, muitas vezes difícil, mas isso não significa esquecer tudo que tivemos que deixar para trás. Afinal, uma vez brasileiro para sempre brasileiro. E sabe o que mais faz todo coração de imigrante bater mais forte? Continue lendo o artigo para descobrir.
1. Comida brasileira
Já que começamos esse artigo citando a feijoada, vamos falar do incrível momento em que um brasileiro morando fora consegue encontrar ingredientes no mercado para fazer as receitas de casa.
Não é em todo lugar que você encontra Guaraná, farofa, flocão de milho, goma de tapioca, mas se você for à seção internacional do supermercado da sua cidade ou nos mercados internacionais, como africanos, asiáticos e portugueses, poderá se surpreender com os achados.
Triste mesmo é a seção de frutas e legumes — sem dúvida, uma das coisas que todo brasileiro sente falta ao não morar no Brasil. Sabe há quanto tempo não como uma banana com gosto? Mais de 2 anos! Não há 10% da variedade de frutas que encontramos no Brasil. Sem contar que o maracujá não é azedo e o milho é doce.
Não sei você, mas para mim é quase regra: sempre que viajo procuro um restaurante brasileiro. Isso é algo que quem mora no Brasil não entende, mas após comer todos os tipos de gastronomia, a gente aprende a valorizar ainda mais o nosso tempero e receitas.
Cerveja gelada e tira-gosto é invenção de brasileiro
Sabe quando você vai num barzinho para beber uma cerveja gelada e petiscar? Um dos maiores choques culturais foi perceber que, aqui, muitos bares não oferecem sequer uma batata frita no cardápio. A cultura de petisco é praticamente inexistente e isso é uma das coisas que todo brasileiro sente falta ao morar no exterior. Por isso, uma das minhas saudades é aquele happy hour completo que só o Brasil tem.
Ahhhh o açaí!
Açaí é algo ame ou odeie, mas se você ama, vai passar por uma verdadeira jornada até encontrar um que seja próximo do que já experimentou do Brasil. E aqui nem entro na questão do açaí puro e o misturado com xarope de guaraná, é bem pior que isso. Eles fazem uma mistura com uma porcentagem mínima da fruta e mirtilo, por exemplo. Você não sente nem o “cheiro” do açaí.
Coxinha, pastel, caldo de cana, bolo de aniversário… São tantas coisas que a gente sente falta. Por isso a gente faz a festa quando vai de férias para o Brasil e volta com a mala abastecida de comida.
2. Família e amigos
Quando você vai morar fora do Brasil, tem que deixar para trás seus amigos e familiares para ir em busca da realização do seu sonho. Muitas vezes quem imigra se sente culpado por isso, principalmente em datas como aniversários, nascimentos e casamentos em que não é possível estar presente, e talvez, essa é uma das principais coisas que todo brasileiro sente falta ao morar no exterior.
Para lidar com a famosa culpa de quem mora no exterior, podemos dizer que a tecnologia existe e com a videochamada podemos ver o rostinho de quem está longe, conversar e sorrir. Tem imigrante que telefona diariamente para a família no Brasil, outros não sentem essa necessidade constante, mas a saudade é a mesma.
Nos meus primeiros meses (de Nathane) morando na França, eu sentia a frustração de não participar dos eventos. De ver os amigos combinando de se encontrar no grupo do WhatsApp e não poder ir. Mas com o tempo, a vida fora do Brasil vai se tornando a sua vida e você conhece novas amizades (inclusive amizades brasileiras no exterior), se apaixona, forma família.
O desapego é um dos processos mais difíceis da adaptação cultural do imigrante. Não são todos que podem viajar sempre para o Brasil ou receber os familiares nas férias. Por isso, todo reencontro é significativo e repleto de emoção.
Nossa família é o coração que bate fora do peito e a saudade se faz presente.
3. Clima tropical
O clima é uma das coisas que todo brasileiro sente falta ao morar no exterior, após vivenciar o primeiro inverno no exterior.
Quando eu me mudei para a França, cheguei no fim do outono e foi a primeira vez que senti frio de verdade na vida, ainda mais vindo da Paraíba.
Agora que moro na Alemanha, além do clima, sinto saudade dos dias claros. Nunca irei me acostumar com o por do sol às 16h. E para fugir do inverno na Europa, a melhor tática sempre será comprar passagem de férias para o Brasil.
Mas para ser sincera, até no verão, é possível sentir saudade do nosso clima tropical porque o calor que faz na Europa é diferente, te cozinha por inteiro, sem uma brisa para aliviar.
Na França, sobrevivi a três ondas de calor com temperaturas acima de 40ºC e para mim foi mil vezes pior do que sentir frio, porque os prédios não têm estrutura e muito menos ar condicionado para compensar.
Nessa época os lagos, rios e praias ficam lotados porque realmente não há outra opção para se refrescar se você não tiver piscina em casa. E mais uma vez bate a saudade das nossas praias, da areia fofa e até dos ambulantes vendendo água de coco.
4. Festas brasileiras
Se no Brasil a gente já amava nossas festividades, morando fora aprende a valorizá-las ainda mais. Afinal, o brasileiro sabe festejar como ninguém, né?
As festas de Natal e Ano Novo na Europa são bem simples, nada de se arrumar para ficar na sala de casa, por exemplo. Normalmente é feito um jantar ou almoço em família com um prato mais especial. Para quem gosta de ver os fogos de artifício, apenas grandes cidades, como Berlim, fazem algo do tipo.
O carnaval na Europa é celebrado em alguns países, muitas vezes em datas diferentes, mas não é nada como a gente conhece.
Na França fui duas vezes para a festa de carnaval em Bordeaux e o que posso afirmar é que é apenas um grande desfile temático, sem carro de som, shows e pouca animação.
Ela tem um vídeo no YouTube mostrando isto, caso você tenha curiosidade de saber como é:
No São João é o mesmo. Você pode encontrar alguns eventos e festas, que são bem familiares e de bairro, mas sem quadrilha e comidas típicas não tem a menor graça (ainda mais para quem veio do estado que sedia o Maior São João do Mundo).
Por falar em festas, para quem gosta de balada e dançar funk, tem que conviver na espera das festas temáticas em homenagem ao Brasil ou as que são organizadas por brasileiros. Pois, na maioria das vezes, a playlist dos lugares é dominada por reggaeton e música eletrônica.
Em Bordeaux, quase todo domingo organizam uma roda de samba. Então, para quem mora em cidades com uma grande comunidade de brasileiros torna-se mais fácil matar um pouco da saudade do Brasil.
Eu mesma fazia aula de dança uma vez por semana só para ouvir um pouco de funk ou axé, músicas que nem fazem parte do meu gênero musical favorito, mas que por algum motivo dão saudade. Por isso, a música sempre estará na lista de coisas que todo brasileiro sente falta ao morar no exterior.
6. Bom atendimento
No Brasil há o esteriótipo do servidor público, que não trabalha, né? Bom, espere enfrentar as primeiras burocracias na Europa para mudar de opinião a respeito da qualidade do nosso atendimento.
E isso se aplica em lojas, prestadores de serviço, médicos. Na Europa é difícil encontrar a qualidade, agilidade e sorriso no rosto que os atendentes brasileiros apresentam.
Uma vez o interruptor do meu apartamento parou de funcionar e eu entrei em contato com quatro eletricistas franceses para virem consertar. Todos estavam indisponíveis e me deram um prazo de 3 semanas. Minha sorte foi que encontrei um brasileiro que fez o conserto no mesmo dia e me salvou de ficar todo esse tempo sem luz.
Por isso que eu digo, por mais que o Facebook seja algo que nossos amigos não usam mais, ainda é uma ferramenta útil para se conectar com outros imigrantes brasileiros na Europa. Pesquise “brasileiros em + nome da sua cidade”, que você irá encontrar vários grupos.
7. Alto astral brasileiro
Não há como falar das coisas que todo brasileiro sente falta ao não morar no Brasil: o nosso alto astral é algo peculiar.
A saudade que dá de desabafar com um amigo sobre algo que está te preocupando e ele responder “Já deu certo, relaxa”. Os europeus são bem sinceros e não enrolam muito para falar algo. Então, se perguntar algo, esteja preparado para receber uma resposta realista.
Sinto que na França e Alemanha as pessoas reclamam de mais e sorriem de menos, sem generalizar. Mas o brasileiro é aquela pessoa que faz piada da própria desgraça. Essa leveza numa conversa faz falta, às vezes.
Na Alemanha, se você não separar o lixo corretamente, capaz de receber uma carta dizendo que você é a causa da destruição do planeta (brincadeira!).
8. Preço de produtos e serviços
O custo de vida na Europa é melhor que o do Brasil, isso é inegável se você recebe o seu salário em euro. Porém, se você tem saudade das coisas do Brasil e quer comprar um dos produtos brasileiros no mercado, a dica que eu dou é: não converta porque você vai se assustar.
Eu queria fazer caipirinha para receber meus amigos em casa e quase caí para trás com o preço da cachaça, que na Europa é vendida como premium, mas no Brasil é considerada uma das piores em termo de sabor.
Isso também se aplica para esmaltes, alicate de unha, a nossa tradicional sandália Havaianas — que na Europa pode custar 30€ a versão mais básica. Além dos serviços, principalmente na área estética, que é um trabalho muito valorizado.
9. Falar português
Existem 3 tipos de imigrantes:
• Os que não querem se relacionar com brasileiros;
• Os que só tem amigos brasileiros;
• E aqueles que conseguem um equilíbrio entre as amizades.
Quanto mais tempo você passa longe do Brasil, mais saudade dá de conversar em português com outros brasileiros e usar expressões que só a gente entende. Fora que nos sentimos nós mesmos em nosso idioma de origem, isso não dá para negar.
No Brasil, eu era a cliente que mal abria a boca quando ia ao salão de beleza, e aqui, com minha cabeleireira brasileira, eu falo mais que o homem da cobra. É uma oportunidade de conversar, fofocar e se sentir um pouquinho em casa.
São várias saudades que quem mora fora do Brasil tem que conviver, algumas a gente nem imaginava que sentira, mas só estando longe para saber.
E aí, está preparado para lidar com as coisas que todo brasileiro sente falta ao morar no exterior? Tem vontade de viver em um país europeu?
Confira o ebook “O sonho de viver na Europa”, que reúne história de diferentes brasileiros que atravessaram o Atlântico e compartilhas as suas dificuldades e oportunidades. Vale a pena se inspirar e refletir!
Fonte: Eurodicas
Texto By Nathane Costa, também conhecida como Thanny, é especialista em Comunicação e Marketing para Mídias Digitais. Nascida e criada em João Pessoa, Paraíba, morou na França e, agora, está passando uma temporada na Alemanha. Produz conteúdo para a internet desde 2009 e ama compartilhar dicas de viagem e gastronomia para ajudar outros brasileiros pelo mundo.