OS DELÍRIOS VERBAIS ME TERAPEUTAM…

Gostei muito desta crônica de Elton Luiz Leite de Souza, leiam

Certa vez, quando eu passava por um momento muito difícil , sonhei que seria operado do coração. Angustiado, eu pensava que não sobreviveria à operação. Não sei como fui parar ali, por quais caminhos andei ou fui levado. Sabia apenas que haveria uma operação e eu era o paciente a ser operado. De repente, adentra a sala de cirurgia o cirurgião. Ao vê-lo, meu medo desaparece, cheguei até a sorrir… Pois o médico que me operaria era nada mais nada menos do que o poeta Fernando Pessoa! No princípio, achei estranho. Mas depois percebi que fazia sentido ser um poeta o cirurgião de um coração angustiado. Sem demora, o cirurgião-poeta abriu meu peito, mas não com bisturi: não sangrou, nem houve dor. Ele enfiou uma das mãos, porém não foi suficiente. Somente as duas mãos do poeta conseguiram tirar meu coração do peito:

“Ele está pesado como um paralelepípedo! Preciso extrair o que lhe pesa”, diagnosticou o cirurgião-poeta. “O que lhe pesa não é coisa física, o que lhe pesa é a mágoa com o passado, a decepção com o presente, o medo do futuro e a descrença nos homens”, disse-me ele enquanto extraía tudo isso. Quando olhei para a mão do poeta, meu coração estava minúsculo, parecendo uma semente salva de um fruto que perecia. Protestei: “poeta, com esse coração pequenino não vou sobreviver!” O cirurgião-poeta então respondeu, terminando sua arte, sua “clínica”: “Ele está assim pequeno porque deixei apenas o coração da criança.” Após ouvir isso acordei, e não apenas daquele sonho, já amanhecia.

Queria registrar o sonho e me virei para pegar caneta e papel. Então, algo que estava sobre meu peito caiu ao meu lado na cama, era um livro que adormeci lendo: “O Eu Profundo e os outros Eus”, de Fernando Pessoa. Acordei de um sonho maravilhoso. Seria tão bom ter um cirurgião deste né? Já leu este livro?

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QUERO TUDO NOVO DE NOVO.

Quero tudo novo de novo. Quero não sentir medo. Quero me entregar mais, me jogar mais, amar mais.
Viajar até cansar. Quero sair pelo mundo. Quero fins de semana de praia. Aproveitar os amigos e abraçá-los mais. Quero ver mais filmes e comer mais pipoca, ler mais. Sair mais. Quero um trabalho novo. Quero não me atrasar tanto, nem me preocupar tanto. Quero morar sozinha, quero ter momentos de paz. Quero dançar mais. Comer mais brigadeiro de panela, acordar mais cedo e economizar mais. Sorrir mais, chorar menos e ajudar mais. Pensar mais e pensar menos. Andar mais de bicicleta. Ir mais vezes ao parque. Quero ser feliz, quero sossego, quem sabe uma tatuagem. Quero me olhar mais. Cortar mais os cabelos. Tomar mais sol e mais banho de chuva. Preciso me concentrar mais, delirar mais. Viver mais. Aprender mais!
Não quero esperar mais, quero fazer mais, suar mais, cantar mais e mais. Quero conhecer mais pessoas. Quero olhar para frente e só o necessário para trás. Quero olhar nos olhos do que fez sofrer e sorrir e abraçar, sem mágoa. Quero pedir menos desculpas, sentir menos culpa. Quero mais chão, pouco vão e mais bolinhas de sabão. Quero aceitar menos, indagar mais, ousar mais. Experimentar mais. Quero menos “mas”. Quero não sentir tanta saudade. Viajar mais… encontrar mais… Quero mais e tudo o mais.
E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha.
Quero tudo de novo

Adorei esta crônica. Muitas vezes atribuído, de forma errônea, a Fernando Pessoa. Somente a última frase é realmente de Pessoa, sendo um trecho do poema “Tabacaria” de Álvaro de Campos.

Faço dela o meu olhar aos meus sentimentos. Quero muito mais…. Me representa muito 🥂

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https://oterceiroato.com/2020/10/28/acorda-baby-boomer-a-vida-te-chama/

DESAPEGAR É NECESSÁRIO…

Para ser feliz, as vezes é preciso “desapego” e desistir de muitas coisas. Por isso, sempre que sentir necessidade, desapegue e desista! A energia flui.

Desapegue daquilo que não deu certo no passado. Desapegue dos arrependimentos. Desapegue dos problemas, desapegue dos sofrimentos, da mágoa e do rancor. O que passou, passou, e por mais que você pense, não vai poder mudar nada.

Desista de se culpar. Desista de querer ter sempre razão. Desista de querer impressionar os outros. Desista da perfeição. Desista de achar que pode controlar tudo. Desista de achar que tudo tem uma razão. Há coisas que acontecem simplesmente porque precisam acontecer, por pura contingência.

Desistir de caminhos que não vão levar a lugar nenhum, é se apegar ao que realmente importa. Se apegue ao amor. Se apegue ao que você acredita ser a felicidade. Se apegue ao otimismo. Se apegue às soluções. Mude! Reinvente-se.

Veja também:

https://oterceiroato.com/2021/05/07/quero-tudo-novo-de-novo/

https://oterceiroato.com/2020/10/30/sou-aquela-mulher/

INSTRUÇÕES PARA TODA VIDA:

Instruçõés para toda vida:
Leve em consideração que grandes amores e conquistas envolvem grandes riscos.
Quando você perde, não perca a lição.
Siga os três R’s:

  • Respeito a si mesmo
  • Respeito aos outros
  • Responsabilidade por todas as suas ações
  • Lembre-se de que não conseguir o que você quer é algumas vezes um grande lance de sorte.
    Não deixe uma disputa por questões menores ferir um grande amigo.
    Quando você perceber que cometeu um erro, tome providências imediatas para corrigi-lo.
    Passe algum tempo sozinho todos os dias.
    Abra seus braços para mudanças, sem abrir mão de seus valores.
    Lembre-se de que o silêncio é algumas vezes a melhor resposta.
    Viva uma vida feliz e em paz. Assim, quando você ficar mais velho e pensar no passado, poderá obter prazer uma segunda vez.
    Uma atmosfera de amor em sua casa é o fundamento para sua vida.
    Em discordâncias com entes queridos, trate apenas da situação corrente. Não levante questões passadas.
    Compartilhe o seu conhecimento. Esta é uma maneira de alcançar a imortalidade.
    Seja gentil com a terra.
    Uma vez por ano, vá a algum lugar que você nunca esteve antes.
    Lembre-se de que o melhor relacionamento é aquele em que o amor mútuo excede o amor que cada um precisa do outro.
    Julgue o seu sucesso por aquilo que você teve que abrir mão para consegui-lo.
    E por fim, sempre entregue-se total e irrestritamente ao amor .
  • Veja também: https://oterceiroato.com/2020/11/27/viver-por-dentro/

VIDA E SEU PONTO …,:—

Há dias em que sou ponto,
querendo encerrar coisas.
Em outros, vejo-me vírgula,
que a tudo tenta separar.
Tenho também meus
momentos de dois pontos:
ao tentar enumerar
aquilo que me incomoda.
E quando sou travessão, —-
é para tirar os nós da garganta,
berrar, se for preciso.
A verdade é que em mim
cabem todas as pontuações…,:—
Afinal, sou um texto diferente
a cada dia.
Um dizer que nunca se acaba.

Gostei muito como Emille Kisar pontua a vida. 🤩

Veja também:

https://oterceiroato.com/2020/10/12/casa-de-mae-depois-que-se-vao/

CONCERTOS DOMÉSTICO QUARENTÊNICOS.

Acho bem divertido este texto do meu amigo Laerte Temple, quem já não passou por algo deste tipo, ou quase…

Cansado de procurar o que fazer, resolvi organizar meus livros, CDs e DVDs. Achei raridades que nem lembrava que ainda tinha. Poe, Saramago, Assis, Camus, Drummond, LPs do Trio Los Panchos, Connie Francis, Ataulfo Alves, Vinicius, Elis, DVDs históricos de Elvis, Beatles, Sinatra, Charles Aznavour, Buena Vista Social Club e outros mais. Entendem agora por que é difícil para mim curtir Jojô Todinho ou Pablo Vittar?

Liguei a TV e o portentoso “Tudo em um”, aparelho chinês compacto que reúne rádio AM/FM, CD, DVD, Blue Ray, Home Theater etc. Só falta lavar e secar. Mas aí o DVD de Simon & Garfunkel no Central Park engasgou. Liguei para a assistência e ninguém atendeu. Devem estar em quarentena. Como sou alfabetizado e curioso, consultei o manual de instruções.

Alguém com mais de sessenta já tentou ler um manual instruções de eletrônicos made in China? Uma folha A 3 semitransparente, dobrada inúmeras vezes até ficar do tamanho de um maço de cigarros sem filtro, dividida em blocos com oito idiomas, todos mal traduzidos, repleto de siglas e termos de física quântica e impresso com letras iguais às bulas de remédio para disfunção erétil. Nem com microscópio eletrônico!

Peguei óculos de leitura, lente de aumento e comecei a pesquisar. Depois de vinte minutos lendo, conectei o plug HDMI à porta 3, liguei o cabo coaxial no receiver, encaixei as tomadas USB, cliquei na tecla Function, selecionei DVD, apertei Play e esperei inicializar.

O DVD não destravou e o painel mostrou “Erro 49”.

Consultei o manual. Eu não tinha desativado e função multiplex nem conectado a entrada RGB. Desliguei tudo, contei dez segundos e reinicializei no modo Beta. Nada. Repeti o procedimento três vezes. Nada.

Consultei a lista de defeitos e soluções.

Tinha perguntas geniais como: Você tirou o aparelho da caixa? Conectou à rede elétrica? Pressionou a tecla Liga?

Como essas soluções não me atendiam, radicalizei. Peguei a chave Philips na caixa de ferramentas, desmontei a disqueteira e desencavalei o DVD. Montei tudo novamente com maior eficiência, pois sobraram umas peças, provavelmente desnecessárias, só para aumentar o preço. Liguei na tomada e pressionei a tecla ON.

Não inicializou e várias luzes azuis e vermelhas piscaram no painel. Parecia viatura da blitz da Lei Seca. O micro ondas apitou e a máquina de lavar, vazia, começou a centrifugar. Da TV e do “Tudo em um” chinês surgiu densa fumaça branca igual ao “Habemus Papam”. Arranquei tudo da tomada, porém tarde demais.

Os disjuntores chamuscaram e todas as luzes se apagaram. Curto circuito geral, no apartamento e no prédio inteiro.

Resolvi ler um livro na varanda prá disfarçar.

No dia seguinte desci nove andares para comprar pão. Tinha um pessoal no poste trocando um transformador.

O síndico me viu e disse que algum FDP deve ter feito gambiarra. Respondi “vai saber, tem muito doido metido a eletricista”.

Maldita quarentena!

ELA ERA BONITA.

E assim chegamos à envelhecência, com nossa alma recheada pelas experiências vividas, os olhos brilhantes ao contemplar e reconhecer a beleza da vida, inobstante os momentos terríveis e nada fáceis que tenhamos passado. Sejamos gratos. Muitos não encontram a possibilidade de vivenciar nem as alegrias, nem as tristezas, pois partem cedo demais daqui. ANTES ELA ERA BONITA… mas ela não sabia o que isso significava. Leiam:

Quando ela era uma menininha, lhe disseram que era linda, mas não tinha significado em seu mundo de bicicletas e tranças e aventuras de faz-de-conta.

Mais tarde, ela desejava ser linda, quando os meninos começaram a notar suas amigas e os telefones tocaram para encontros de sábado à noite.

Ela se sentiu linda no dia do casamento, esperançosa com seu novo parceiro de vida ao seu lado. mais tarde, quando os filhos dela disseram que ela era linda, ela estava frequentemente exausta, seu cabelo bagunçadamente amarrado pra trás, sem maquiagem, larga na cintura, onde costumava ser fina; ela simplesmente não conseguia entender.

Ao longo dos anos, enquanto ela tentava, aos trancos e barrancos, ficar bonita, ela encontrou outras prioridades, como as contas e as refeições, enquanto ela e seu parceiro trabalhavam duro para fazer uma familia, para dar conta às despesas, para transformar crianças em adultos, para fazer uma vida.

Agora, ela senta.
Sozinha.

Seus filhos cresceram. Seu parceiro voou, e ela não consegue se lembrar a última vez em que ela foi chamada de linda.

Mas ela estava.

Estava linda em cada linha de seu rosto, na força de suas mãos artríticas, na amplitude que tinha um milhão de abraços impressos em sua própria pele, e em suas coxas inconstantes e tornozelos grossos, que tinham feito sua corrida por ela.

Ela viveu sua vida com um amoroso e generoso coração, tinha colocado seus braços em torno de tantos para dar-lhes conforto e paz.

Seus ouvidos tinham ouvido tanto notícias terríveis, como lindas canções, e de seus olhos tinham transbordado, oh, tantas lágrimas, que estavam eles agora brilhantes, mesmo quando escureceram.

Ela tinha vivido e era.

E porque ela era, se tornou bonita.

Gostei muito desta crônica de Suzanne Reynolds, me fez pensar sobre a beleza e o envelhecer. Beleza existe em todas as fases da vida. Mas tem muitos que tem dificuldade de enxergar com o passar do tempo. Ela existe sim… basta enxergar além do que os olhos veem.

ACORDA BABY BOOMER, A VIDA TE CHAMA.

Achei esta crônica muito interessante, representa muito de nós, que envelhecemos de bem com a vida.

Não ligo muito pra datas e não sou de fazer muitos planos. Toda vez que quis planejar demais a vida, o acaso deu um jeito de aparecer e mudar o rumo das coisas. Não sei por que, mas sempre atribuí isso ao fato de ser uma baby boomer.

Por outro lado, curiosidade nunca me faltou. Então, foi assim que cheguei aos 60 anos. Meio no susto e com a cabeça cheia de perguntas. Se quiser interpretar isso como insegurança, fique à vontade. Entrar para a categoria dos idosos teve um impacto forte em mim. Não dá pra negar. Tão forte que quebrou coisas, o que foi ótimo. Mas isso eu só percebi depois.  

Na linha de chegada o cenário estava bem confuso. De um lado, um monte de gente tentando transformar a velhice na “melhor idade”, com casais grisalhos sorridentes em anúncios de fraldas ou de cola para dentadura. De outro, velhinhos sarados pulando de bungee jump. Velhinhas extravagantes “curtindo a vida adoidado”. Principalmente fora do Brasil.

Aqui, antenados apontando para o preconceito contra a velhice no País. Para o triste descaso das marcas e da mídia em relação aos 60+. Empresas de marketing e pesquisa discorrendo sobre a sensação de invisibilidade trazida à cena por esse público. Para as dificuldades financeiras e entraves ao bem estar, ainda tão comuns na vida dos idosos do Brasil. Esse Brasil que envelheceu antes de se estruturar pra isso e onde chamar alguém de velho é ofensa.

Lá estava eu. Nem tão grisalha, nem tão idosa, sabendo que continuava a mesma de sempre, mas que agora pertencia uma nova e categoria. 

O fato é que a invisibilidade não chega aos 60. Chega bem antes. Aos 60, a gente reaparece como um velhinho corcunda de bengala, estampado no estacionamento de um shopping ou numa placa de trânsito. Fui dormir uma mulher de 59 anos e acordei uma senhora idosa de 60. Não foi uma crise de identidade. Mudaram minha identidade sem pedir a minha permissão.

Fazer o que. Fui lendo e tentando descobrir o que outras pessoas estavam pensando. Fui mais fundo na psicoterapia, vasculhei minhas vulnerabilidades e aos poucos fui me reencontrando. Quebrei defesas e comecei a construir pontes, que é o único jeito de vencer preconceitos. Eles rondam por todo lugar. Passei a ouvir mais pessoas e também a expor mais minhas verdades.

Se a invisibilidade dos 60 menos é um tanto silenciosa, o velhinho de bengala não tem medo de fazer barulho. É preciso romper esse manto da invisibilidade. Isso não é importante só pra nós. É pra todos que vierem depois.

Seja pelo incentivo dos ageless, que se mantém joviais e interessados pela vida, sem dar a mínima para a idade. Seja por inspiração dos fora da curva, aqueles velhos que simplesmente não aceitam a ideia de envelhecer e mostram que sim, o corpo aguenta. Seja simplesmente por acharem que é a coisa certa a fazer, o fato é que os 60+ aos poucos estão saindo do armário. Estão se valorizando, gostando mais de si.

Esse movimento gerou um certo barulho. O suficiente para que as marcas brasileiras começassem a acordar. E mesmo que tenha demorado, isso é motivo de comemoração. Tá na hora de somar, não diminuir. 

Se você quer pintar o cabelo, pinte. Se quer ostentar a prata no seu telhado, ostente. Quer dançar e cantar na rua? Desafie sua timidez. Quer trabalhar? Procure um problema pra resolver. Arregace as mangas. Estenda a mão. Construa junto.

Se você é um babyboomer, já viveu muitas revoluções. Já passou por poucas e boas. Já sofreu, já chorou, mas também deu boas risadas, não deu? Você faz parte de uma geração que quando era jovem ousou, brigou e exigiu como poucas até então. Com isso, derrubou barreiras, ampliou o diálogo e as trocas entre as pessoas. Mudou o mundo.

Então agora você não vai se encolher, né? Por favor. É hora de ocupar esses espaços e de abrir muitos outros. É hora de continuar a crescer.

*Este texto de Helena Morais, do blog Sessenteen, foi publicado na Coletânea Amo Minha Idade, organizado por Edna Perroti e Elizabete Marin. Fonte:

Veja também:

http://www.sessenteen.com.br/2020/05/15/acorda-baby-boomer-a-vida-te-chama/

https://oterceiroato.com/2020/07/08/deixem-me-envelhecer-3/

https://oterceiroato.com/2020/07/02/me-reinventando/

https://oterceiroato.com/2020/07/01/aconteca-o-que-acontecer-na-sua-vida-encontre-a-sua-paz-interior/

O VALIOSO TEMPO DOS MADUROS!

Nosso gênio literário Mário de Andrade, poeta, escritor, crítico literário, musicólogo, folclorista, ensaísta e fotógrafo brasileiro… escreveu este texto maravilhoso. Além de ter inspirador da uma boa reflexão 😉

“Contei meus anos e descobri que terei menos tempo pra viver daqui para frente do que já vivi até agora. Tenho muito mais passado do que futuro. Sinto-me como aquele menino que recebeu uma bacia de cerejas.

As primeiras, ele chupou displicente, mas percebendo que faltam poucas, rói o caroço. Já não tenho tempo para lidar com mediocridades. Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflamados. Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram, cobiçando seus lugares, talentos e sorte. Já não tenho tempo para conversas intermináveis, para discutir assuntos inúteis sobre vidas alheias que nem fazem parte da minha. Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas, que apesar da idade cronológica, são imaturos. Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a essência, minha alma tem pressa. Sem muitas cerejas na bacia, quero viver ao lado de gente humana, muito humana: que sabe rir de seus tropeços, não se encanta com triunfos, não se considera eleita antes da hora, não foge de sua mortalidade, quero caminhar perto de coisas e pessoas de verdade. O essencial faz a vida valer a pena. E para mim, basta o essencial!”