ESCOLHAS…

Não supervalorize o passado, sua “história”, seus traumas, sua dor de cotovelo. Todo mundo tem feridas, todo mundo leva tombos, cada um sabe o que traz na bagagem. Tenha sim coragem de valorizar seus milagres, aquilo que é real e palpável, o terreno onde pisa, as mãos entrelaçadas às suas.

By Fabiola Simões

INESPERADO!

Somos programados a permanecer naquilo que é conhecido: nossa vida, nossa rotina, nosso mundo, nosso passado.

Mas o que nos faz recomeçar é o inesperado. Sempre é.

E de vez em quando temos que nos submeter ao imprevisível, quer queira, quer não.

Aquilo que te pega de surpresa, num dia comum… a partir do qual tudo muda.

São novas chances, não apenas tormenta. Novas possibilidades, não apenas provações.

E você sofre porque terá que reformular o desenho cerebral. O mapa tão conhecido que te conduziu até aqui.

É doloroso. Mas também bonito. Você ainda não enxerga beleza, mas uma hora olhará pra trás com entendimento e perceberá que foi capaz de rearranjar-se novamente. O inesperado foi uma benção. Sempre é.

By Fabiola Simões

SILENCIAR…

A vida é barulhenta. Dentro ou fora de nós, nada se aquieta. Queremos nos comunicar, exigimos respostas na velocidade de super-hiper-mega bytes, contabilizamos “notificações”, desejamos ser cutucados de volta. Sem perceber, desaprendemos a silenciar. Desaprendemos a suportar a voz que cala e sofremos com a falta de respostas. Desaprendemos a ser ausência.

De vez em quando é necessário ser silêncio. Habituar-se à própria presença, inteirar-se de sua solidão. Comunicar tudo sem dizer nada.

By Fabiola Simões

CONSTANTES…

Aqui me vi exatamente como me sinto. Lindo e profundo o texto da minha amiga Irina Marques! Leiam:

Sou do tipo resiliente otimista e mesmo nos momentos mais difíceis que já enfrentei pela vida, que com certeza me abateram… também sempre acreditei que tudo ia passar, eu aprenderia algo novo… e iria sair dali mais forte e melhor. Tudo tem seu tempo. E cada um tem o seu. E assim aconteceu.

Lembranças trazem “mergulhos profundos”, retalhos de nós que se escancaram e trazem a tona algumas cicatrizes.

Com o tempo sei que sempre estive na hora e nos momentos certos da vida. Tudo no seu devido lugar. Gratidão por isto.

Tenho uma tendência para me esquecer facilmente das coisas, outras vezes não, as coisas marcam de forma a criar cicatriz. Quando olhamos, ela está sempre lá, e muitas vezes é costume esquecermos a história que ela tem para contar. A nossa cicatriz, é apenas nossa e só cabe a nós conseguir entender, desvendar e aprofundar as causas e consequências dela.

Muitas vezes, o que acontece, é as pessoas tomarem as nossas dores, seja por simpatia, empatia ou compaixão. Está certo, num mundo perfeito as coisas deveriam ser assim, talvez num mundo mais sentimental e menos competitivo esta, seria uma utopia perfeita. Acordamos para a vida.

Ontem, dei por mim a escrever, a escrever muito, a escrever tanto que a dor começou a tomar lugar. Questionei, encontrei respostas, voltei a questionar, vi outras perspetivas, tentei pôr-me do outro lado, voltei a escrever – criar personagens, sair da zona de conforto e observar outras realidades.

Aprendizagens que temos no decorrer da vida, por vezes esquecemos ou outras vezes abordamos de forma diferente, com tempo, aprendizagens e, o olhar não é o mesmo de hoje, de ontem, dos meses passados, dos anos… O que escrevo hoje daqui a dois anos pensarei de outra forma, é assim que tem ocorrido, tem sido uma constante. São relatos, pedaços de mim, deixados para trás para que eu própria consiga rastear.

E por ter esta tendência para me esquecer, tenho a mesma tendência a relatar, a testemunhar a minha presença e pensamento através de textos, de reflexões até mesmo para recordar. A memória é a coisa mais falível que temos, se nos lembramos de algo, não é exatamente como foi mas preenchemos essas lacunas para que isso mesmo faça sentido – ora para o bem, ora para o mal.

Nos mergulhos profundos foi onde eu encontrei as melhores explicações, o cerne da questão, a raiz. E nesses mergulhos profundos, não entendia a sua própria profundidade, ainda não entendo, continuo a mergulhar enquando as minhas forças me permitem. E quanto mais mergulho, mais são as descobertas que faço, horizontes que se relevam, testemunhos que tenho que relatar mas já não os exponho. Todos os que expus resolvi apagar, conforme referia, as palavras são minhas mas expostas podem não conseguir manifestar o que cá vai dentro.

Através da expressão e relatos guardados, é o que me permite encontrar, montar as peças e dar forma a tudo o que se passou e se encontra a passar. E muitas vezes esqueço, é verdade que esqueço, lições que aprendi e esqueci, nesses mesmos relatos estão essas lições – constantes, que me lembram – este é o caminho a tomar, ali, vais errar. Não são roteiros rígidos, são apenas registos para não me perder, novamente mas saborear a corrente. As constantes, mantêm-se nos relatos e, permitem-me desviar.

Pedaços de vida que não se compõem aqui, mas sim noutro lugar. As artes, são apenas um testemunho, do que no interno se está a passar.

ENVELHECER E FINITUDE!

Adorei este texto que fala do envelhecer com um olhar sensível e verdadeiro de autoria de Marguerite Yourcenar, in ‘Memórias de Adriano’. Assim está sendo o caminhar de muitos de nós 🙏🏻. Vale a pena ler:

Tenho sessenta anos. Não te iludas: não estou ainda bastante fraco para ceder às imaginações do medo, quase tão absurdas como as da esperança e seguramente muito mais penosas. Se fosse preciso enganar-me a mim mesmo, preferia que fosse no sentido da confiança; não perderia mais com isso e sofreria menos. Este fim tão próximo não é necessariamente imediato; deito-me ainda, todas as noites, com a esperança de chegar à manhã seguinte. Adentro dos limites intransponíveis de que te falei há pouco, posso defender a minha posição passo a passo e recuperar mesmo algumas polegadas do terreno perdido. Não deixo por isso de ter chegado à idade em que a vida se torna, para cada homem, uma derrota aceite. Dizer que os meus dias estão contados não significa nada; sempre assim foi; é assim para todos nós. Mas a incerteza do lugar, do tempo e do modo, que nos impede de distinguir bem o fim para o qual avançamos sem cessar, diminui para mim à medida que a minha doença mortal progride. Qualquer pessoa pode morrer de um momento para o outro, mas o doente sabe que passados dez anos já não será vivo.
A minha margem de hesitação já não se alonga em anos, mas em meses. As minhas probabilidades de acabar com uma punhalada no coração ou por uma queda de cavalo tornam-se cada vez menores; a peste parece improvável, a lepra ou o cancro afiguram-se definitivamente afastados. Já não corro o risco de cair nas fronteiras, atingido por um machado helénico ou trespassado por uma flecha parta; as tempestades não souberam aproveitar as ocasiões que se lhes ofereceram, e o feiticeiro que me predisse que eu não me afogaria parece ter acertado. Morrerei em Tíbure, em Roma ou em Nápoles quando muito, e uma crise de sufocação encarregar-se-á da tarefa. Serei levado pela décima ou pela centésima crise? É essa a única questão. Assim como o viajante que navega entre as ilhas do Arquipélago vê despontar, ao entardecer, uma espécie de névoa luminosa e descobre pouco a pouco a linha da costa, eu começo a avistar o perfil da minha morte.
Certas fracções da minha vida assemelham-se já a salas desguarnecidas de um palácio demasiadamente vasto que um proprietário empobrecido renuncia a ocupar todo.

O TEMPO PASSOU…

O tempo passou. Não sei dizer se lenta ou apressadamente. Ou se simplesmente ao seu tempo.

Olhando para trás há tantas memórias, histórias, realizações. Meio século e pouco na medida comum de tempo.

Fiz muito neste tempo. Deixei de fazer zilhões também.  Perdi tempo com muitos medos, mas economizei tempo com as certezas. Perdi tempo em muitos vazios. Ganhei tempo com filhos. Gastei tempo trabalhando. Entretanto, ganhei tempo experimentando.

Fui consumida com o tempo de reuniões infindáveis, fui recompensada neste tempo conhecendo gente interessante. Passei muito tempo chorando por amores não correspondidos e ao fim economizei tempo conhecendo aprendendo a reconhecer o caráter das pessoas. Briguei com o tempo para cumprir prazos. Fui premiada com tempo livre ao terminar antecipadamente algumas obrigações.

Com tudo isso, o tempo se incumbiu, ele mesmo, de ditar seu ritmo. Muitas vezes o minuto levava horas. Outras tantas, as horas passavam num piscar de olhos. O que é o tempo, nem sei dizer, mas sei que ele passou. Sinto que sim, confirmo na pele, no espelho e nas fotos. Entretanto, o aguardo incessantemente.

Nesse tempo futuro ainda busco outros tantos tempos. Desejo ter tempo para novas experiências em assuntos nunca antes aventurados, ou naqueles que me justificava em não fazer, argumentando prontamente a falta de tempo.

Quero outro tanto de tempo para descobrir o mundo fora da minha caixa de certezas. Tempo para conhecer novas culturas, pontos de vista originais e diferentes realidades. Tempo para digerir estes novos aprendizados e tempo para florescer internamente com o aprendido.

Tempo para reconhecer tempo ocorrido. Tempo para reconhecer a finitude do meu próprio tempo neste plano.

Este tempo medido em tique-taques é completamente diferente do tempo medido em ritmo cardíaco ou respiradas conscientes. Preciso de algum tempo para definir a medida de tempo que me é mais apropriada.

O tempo do tique-taque é contínuo, igual. Não apressa. Não atrasa. O tempo das batidas do coração é comandado por sentimentos, sustos, incertezas e alegrias. Pode ser louco, desconcertante; e em outras situações, tranquilo e relaxante. Descompassado, dançante. Apaixonado, inebriante. Seu bater inconstante é divertido e assustador. Pode ser visto por todos. Por fadiga, na respiração pesada e no rubor.

Preciso de mais tempo pra conhecer novas pessoas e para manter as queridas até agora. Preciso de tempo para o mar e para amar. Para calmamente olhar para o céu, e, sem pudor dançar na chuva, descalça, rodopiando.

Nesse tempo futuro aproveitar o agora. O presente. Cada tiquinho de tempo como se fosse o último. E, lá na frente, na despedida poder  escrever: Sim, meu tempo foi perfeito.

*Publicado em 18/09/2017 no site osegredo.com.br – o tempo passou – by Gicapinica

A IDADE DA DERROTA – ACEITE!

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Este texto sobre o envelhecer eu gosto muito. Tenho sessenta anos. Não te iludas: não estou ainda bastante fraco para ceder às imaginações do medo, quase tão absurdas como as da esperança e seguramente muito mais penosas. Se fosse preciso enganar-me a mim mesmo, preferia que fosse no sentido da confiança; não perderia mais com isso e sofreria menos. Este fim tão próximo não é necessariamente imediato; deito-me ainda, todas as noites, com a esperança de chegar à manhã seguinte. Adentro dos limites intransponíveis de que te falei há pouco, posso defender a minha posição passo a passo e recuperar mesmo algumas polegadas do terreno perdido. Não deixo por isso de ter chegado à idade em que a vida se torna, para cada homem, uma derrota aceite. Dizer que os meus dias estão contados não significa nada; sempre assim foi; é assim para todos nós. Mas a incerteza do lugar, do tempo e do modo, que nos impede de distinguir bem o fim para o qual avançamos sem cessar, diminui para mim à medida que a minha doença mortal progride. Qualquer pessoa pode morrer de um momento para o outro, mas o doente sabe que passados dez anos já não será vivo.

A minha margem de hesitação já não se alonga em anos, mas em meses. As minhas probabilidades de acabar com uma punhalada no coração ou por uma queda de cavalo tornam-se cada vez menores; a peste parece improvável, a lepra ou o cancro afiguram-se definitivamente afastados. Já não corro o risco de cair nas fronteiras, atingido por um machado helénico ou trespassado por uma flecha parta; as tempestades não souberam aproveitar as ocasiões que se lhes ofereceram, e o feiticeiro que me predisse que eu não me afogaria parece ter acertado. Morrerei em Tíbure, em Roma ou em Nápoles quando muito, e uma crise de sufocação encarregar-se-á da tarefa. Serei levado pela décima ou pela centésima crise? É essa a única questão. Assim como o viajante que navega entre as ilhas do Arquipélago vê despontar, ao entardecer, uma espécie de névoa luminosa e descobre pouco a pouco a linha da costa, eu começo a avistar o perfil da minha morte.

Certas fracções da minha vida assemelham-se já a salas desguarnecidas de um palácio demasiadamente vasto que um proprietário empobrecido renuncia a ocupar todo.

Marguerite Yourcenar (in ‘Memórias de Adriano’, França

8/ Jun/ 1903 – 17/ Dez/ 1987

Escritora)

A ARTE DE ENVELHECER!

Completar 60, 70, 80 anos de idade, ou mais, e poder comemorar com a família e os amigos é um privilégio, uma bênção. Mas é, também, um bom momento para fazer uma retrospectiva da nossa vida: as conquistas e os fracassos; os sonhos realizados e os que ficaram pelo caminho, enfim, um momento para rever o que carregamos em nossa bagagem, além da família, dos amigos, da fé em Deus, em nós e na vida; além da es- perança, do amor e do desejo permanente de ser feliz.

Mas eis que, sem surpresa, porém um tanto apreensivos, nos damos conta de que a velhice chegou e que estamos deixando para trás a primavera da nossa existência, para dar lugar ao outono. Sem dúvida, nos vemos diante de novos desafios e de uma nova realidade. As limitações vão surgindo, é verdade, mas sentimos um desejo enorme de continuar produzindo e sonhando com outras possibilidades, mesmo que a curto prazo.

Envelhecer é uma das etapas da vida, e cada um chega de um modo pró- prio, de acordo com própria história de vida. Uns com mais saúde, outros com menos; uns com mais conforto e quali- dade de vida, outros com menos. Mas, é com esse cenário que vamos lidar com a velhice, usando nossas experiências, nossa criatividade e nos reiventando a cada dia. E aí, percebemos que vamos precisar, mais do que nunca, da família, dos amigos e da sociedade. É importante aceitar a velhice. Afinal, ter chegado até aqui é uma vitória. E nada contra sentar-se na cadeira de balanço, com uma agulha de tricô ou crochê, com um charuto ou cachimbo, com um bom livro, ou diante da tv para assistir àquele programa favorito. Ou deitar- se numa rede para cutucar a memória e ativar as boas lembranças. Mas isso, só depois de uma caminhada, da aula de dança, de pintura, de música, de culinária ou de natação. Ou mesmo, depois de uma visita a um amigo ou uma amiga, ou alguém da família, para um gostoso cafezinho e um papo agradável.

Pensando bem, envelhecer é uma aventura. “Somente os idiotas se lamentam de envelhecer”, escreveu o filósofo Caio Túlio Cícero. Ele dizia que o importante é encontrar o prazer que todas as idades proporcionam, pois todas têm suas virtudes. A velhice, por si só, não muda o temperamento, o comportamento ou o caráter de alguém. Mas pode ser um gatilho para aqueles que desejam mudar para melhor, na reta final de sua existência. E aí é que nos damos conta de que a vida é curta demais. E para terminar, caros leitores, ve- lhos, idosos, da terceira idade, seja lá como queiram ser chamados, vamos em frente, sem medo, sem preconceito, sem pessimismo e sem pressa; com leveza, tolerância, paciência, paixão e sabedoria. Vamos levar apenas o essencial, aquilo que, realmente, vale a pena. Não é fácil, porque a vida não é nada fácil. Mas o importante é tentar, sempre. Vamos sorrir para a vida, porque ela continua sorrindo para nós.

Veja também: https://oterceiroato.com/2020/07/02/me-reinventando/

https://oterceiroato.com/2020/10/07/setenios-conheca-a-teoria-dos-setenios-de-7-em-7-anos-a-sua-vida-muda-completamente/

VIVER SEM TEMPOS MORTOS…

Naqueles momentos em que ficamos conosco mesmo… vem muitas coisas no pensamento. O tempo todo… vai e volta. Adoro as vezes o silêncio e a minha companhia, penso em tantas coisas 😉… Este Trecho da peça “Viver sem tempos mortos”, inspirada na correspondência de Simone Beauvoir e Jean-Paul Sartre…. adoro:

(…) Não mais me deitar no feno perfumado ou deslizar na neve deserta.
Onde eu exatamente me encontro?
O que me surpreende é a impressão de não ter envelhecido, embora eu esteja instalada na velhice.
O tempo é irrealizável.
Provisoriamente o tempo parou para mim.
Provisoriamente.
Mas eu não ignoro as ameaças que o futuro encerra, como também não ignoro que é o meu passado que define a minha abertura para o futuro.
O meu passado é a referência que me projeta e que eu devo ultrapassar.
Portanto, ao meu passado, eu devo o meu saber e a minha ignorância, as minhas necessidades, as minhas relações, a minha cultura e o meu corpo.
Hoje, que espaço o meu passado deixa para a minha liberdade hoje? Não sou escrava dele.
O que eu sempre quis foi comunicar unicamente da maneira mais direta o sabor da minha vida. Unicamente o sabor da minha vida.
Acredito que eu consegui fazê-lo.
Vivi num mundo de homens, guardando em mim o melhor da minha feminilidade.
Não desejei e nem desejo nada mais do que viver sem tempos mortos. (…)

Obs: A peça foi protagonizada por Fernanda Montenegro pela primeira vez em 2012 e reapresentada em 2018.

Assista: