Adorei este texto que fala do envelhecer com um olhar sensível e verdadeiro de autoria de Marguerite Yourcenar, in ‘Memórias de Adriano’. Assim está sendo o caminhar de muitos de nós 🙏🏻. Vale a pena ler:

Tenho sessenta anos. Não te iludas: não estou ainda bastante fraco para ceder às imaginações do medo, quase tão absurdas como as da esperança e seguramente muito mais penosas. Se fosse preciso enganar-me a mim mesmo, preferia que fosse no sentido da confiança; não perderia mais com isso e sofreria menos. Este fim tão próximo não é necessariamente imediato; deito-me ainda, todas as noites, com a esperança de chegar à manhã seguinte. Adentro dos limites intransponíveis de que te falei há pouco, posso defender a minha posição passo a passo e recuperar mesmo algumas polegadas do terreno perdido. Não deixo por isso de ter chegado à idade em que a vida se torna, para cada homem, uma derrota aceite. Dizer que os meus dias estão contados não significa nada; sempre assim foi; é assim para todos nós. Mas a incerteza do lugar, do tempo e do modo, que nos impede de distinguir bem o fim para o qual avançamos sem cessar, diminui para mim à medida que a minha doença mortal progride. Qualquer pessoa pode morrer de um momento para o outro, mas o doente sabe que passados dez anos já não será vivo.
A minha margem de hesitação já não se alonga em anos, mas em meses. As minhas probabilidades de acabar com uma punhalada no coração ou por uma queda de cavalo tornam-se cada vez menores; a peste parece improvável, a lepra ou o cancro afiguram-se definitivamente afastados. Já não corro o risco de cair nas fronteiras, atingido por um machado helénico ou trespassado por uma flecha parta; as tempestades não souberam aproveitar as ocasiões que se lhes ofereceram, e o feiticeiro que me predisse que eu não me afogaria parece ter acertado. Morrerei em Tíbure, em Roma ou em Nápoles quando muito, e uma crise de sufocação encarregar-se-á da tarefa. Serei levado pela décima ou pela centésima crise? É essa a única questão. Assim como o viajante que navega entre as ilhas do Arquipélago vê despontar, ao entardecer, uma espécie de névoa luminosa e descobre pouco a pouco a linha da costa, eu começo a avistar o perfil da minha morte.
Certas fracções da minha vida assemelham-se já a salas desguarnecidas de um palácio demasiadamente vasto que um proprietário empobrecido renuncia a ocupar todo.

Como pesquisei e escrevi sobre a dimensão infinita que se nos apresenta à nós, ou melhor, que vem até nós, sempre me pergunto se envelhecer é a finitude ou a abertura/aproximação para a infinitude?
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Penso que seria viver plenamente e sabendo apreciar melhor o que acontece ao nosso redor, refletindo sobre a viver com qualidade e ativam.
Esta chegando mais perto da finitude, pode ser, quem saberá ? … não penso muito sobre isto.
Gosto do que Paulo Freire nos diz: “Não há transição que não implique um ponto de partida, um processo e um ponto de chegada. Todo amanhã se cria num ontem, através de um hoje. De modo que o nosso futuro baseia-se no passado e se corporifica no presente. Temos de saber o que fomos e o que somos para sabermos o que seremos.” Abraços Estevam
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De fato!..
É um belo texto, Bia. Eu gosto dessa coisa do envelhecer…é natural, é uma parte importante da vida.
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Bem isto. É uma fase. Faz parte da jornada da nossa vida. Abraços 😘
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Sim!
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Oi Bia. Gostaria de publicar na Masticadores Brasil… não só este mas como outros textos teus!https://masticadoresbrasil.wordpress.com/
meu email é: mmoraisc18@gmail.com
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Miriam, obrigada pela visita. Muitos textos que eu compartilho, e me indentificam, muito são de diversos autores. Outros são meus. Sinta-se a vontade para publicar. Adorei conhecer seu blog, vou estar com você 😉. Abraços
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Sim… eu vi agora que é de outra autora, irei publicar porém vou mencionar o seu blog. Eu gostaria Bia, caso vc tenha o interesse, que me enviasse dois textos seus para que eu possa publicar na Masticadores Brasil.
O meu e-mail é: mmoraisc18@gmail.com
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Ok Miriam. Obrigada Te enviarei em breve. Abraços
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