RECEITA DE ANO NOVO.

Desejo a todos um Feliz Ano Novo. Que 2022 seja um ano cheio de coisas boas: muita paz, saúde, amor, fé e esperança. Texto simplesmente inspirador de Carlos Drummond de Andrade dando “ Receita de Ano Novo” (2008). Onde a simplicidade e a naturalidade faz tudo ser melhor. Leiam:

Para você ganhar belíssimo Ano Novo cor do arco-íris, ou da cor da sua paz, Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido (mal vivido talvez ou sem sentido), para você ganhar um ano não apenas pintado de novo, remendado às carreiras, mas novo nas sementinhas do vir-a-ser; novo até no coração das coisas menos percebidas (a começar pelo seu interior) novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota, mas com ele se come, se passeia, se ama, se compreende, se trabalha, você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita, não precisa expedir nem receber mensagens (planta recebe mensagens? passa telegramas?)

Não precisa fazer lista de boas intenções para arquivá-las na gaveta. Não precisa chorar arrependido pelas besteiras consumadas nem parvamente acreditar que por decreto de esperança a partir de janeiro as coisas mudem e que seja tudo claridade, recompensa, justiça entre os homens e as nações, liberdade com cheiro e gosto de pão matinal, direitos respeitados, começando pelo direito augusto de viver.

Para ganhar um Ano Novo que mereça este nome, você, meu caro, tem de merecê-lo, tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil, mas tente, experimente, consciente.

É dentro de você que o Ano Novo cochila e espera desde sempre. Dentro de você 🥂. Feliz Ano Novo para todos os meus familiares e amigos…

SAUDADE…

Refletindo sobre finitude!!! Adorei, o que a filha de Rubens Alves escreveu sobre sua saudade:

Hoje completamos sete anos do encantamento do meu pai. Tempo suficiente para a presença da ausência se instalar e para aquela dor dilacerante da partida dar espaço para uma saudade mansa e gostosa.
Pensei em sete coisas que aprendi com meu pai, como numa brincadeira, uma coisa para cada ano de saudade…

Aqui vai:
1 – A simplicidade é uma das coisas mais importantes a serem aprendidas para termos uma relação sábia com a vida. Mas ser simples não é fácil e não tem nada a ver com dinheiro… É uma conduta interna, de humano para humano, de humano para a vida.
2 – O tempo passa e escorre por entre nossos dedos. E raramente nos damos conta disso…
3 – Não temos missão nessa vida que não seja sermos nós mesmos e com isso sermos fiéis a nós mesmos. Nossa felicidade se pauta sobre a nossa verdade interna.
4 – Com o passar do tempo, a gente desaprende o encantamento natural que tínhamos quando crianças para com a vida. E é justamente ele que faz a vida valer a pena.
5 – O mais sensato é o equilíbrio entre o pensamento e a emoção; sem enaltecer um em detrimento do outro. A razão dá o saber e a emoção o sabor.
6 – Liberdade exige muita dedicação e coragem. Precisamos saber o que queremos e batalhar para gozar a liberdade de estar ou pensar sobre o desejado.
7 – Não importa tanto qual cainho escolhemos para nós, até porque raramente sabemos com clareza para onde queremos ir ou quais decisões devemos tomar. Por isso, o mais importante é que façamos nossas escolhas com amor…


Com carinho e MUITA saudade, Raquel Alves

NÃO NASCI ONTEM. NASCI NO SÉCULO PASSADO.

Não nasci ontem. Nasci no século passado. Mais precisamente no ano que não terminou: 1968

Posso te garantir: na “minha época” não havia computador pessoal. O “Apple I” foi criado em 1976.

E vou te contar mais: na “minha época” existia um aparelho chamado telefone. Que virou “telefone fixo” e depois… simplesmente sumiu com o surgimento do primeiro celular. Isto ocorreu em 1983, quando o Motorola DynaTAC 8000X passou a ser comercializado. Ele foi criado por Martin Cooper, um engenheiro eletrotécnico norte-americano.

Na “minha época” também não havia a internet como a conhecemos hoje: o primeiro site do mundo foi lançado em 1991 por Tim Berners-Lee, físico do Centro Europeu de Pesquisa Nuclear, responsável por inventar a World Wide Web (WWW).

Já o Google, também não é da “minha época”. Ele foi ao ar pela primeira vez em 1996. Inicialmente, apenas nos servidores da Universidade de Stanford.

Sim, houve um tempo em que eu vivia sem tudo isto.

Em compensação, vivenciei a queda do Muro de Berlim, o término da Guerra Fria, o fim do apartheid na África do Sul e acompanhei os atentados terroristas de 11 de setembro.

Na “minha época”, a inflação (IPCA/IBGE) do Brasil atingiu 2.477%/ano (1993).

É inacreditável, mas foram 7 tentativas de estabilização econômica apenas entre 1986 e 1993: Cruzado I e II (1986), Bresser (1987), Verão (1988), Collor 1 (1990) e II (1991) e Plano Real (1993).

Enfrentei o congelamento de salários e de preços. E o meu dinheiro foi confiscado de um dia para o outro da minha conta corrente. Conheci várias moedas: Cruzado, Cruzado Novo, Cruzeiro, Cruzeiro Real e Real.

Era uma época em que empresas globais deixavam seu nome na história. Lembra-se da Kodak, do Blockbuster e da Polaroid? Pois é, faliram.

No Brasil, tínhamos a Rede Manchete (eu trabalhei lá!), a Varig, a Vasp, os bancos Nacional e Bamerindus, as lojas Mappin, Arapuã, Sears e Mesbla e os refrescantes sorvetes da Yopa. Todos derreteram…

Naquela época, não falávamos de adaptabilidade. Mas quem não inovou, quebrou. Não havia o termo “aprendizado contínuo”. Mas quem não se reinventou, desapareceu.

Como dizia Aldous Huxley, autor de “O Admirável Mundo Novo”,

“Experiência não é o que te acontece; é o que você faz. com o que te acontece”. Nós, os 50+,

Erramos e aprendemos. Vivemos e sobrevivemos.

Tivemos filhos. O meu casal de gêmeos chegou no dia 22/11/00.

Vimos o conhecimento amadurecer e a experiência chegar.

já afirmava Albert Camus, “Prêmio Nobel de Literatura”:

“Não se pode criar experiência. É preciso passar por ela”, E agora?

Percebi que a “minha época” também é agora: quero continuar produzindo, criando, contribuindo e fazendo acontecer.

Não nasci ontem, mas aprendi a substituir…

A máquina de escrever pelo laptop.

O telefone fixo pelo Whatsapp.

O rádio pelo podcast.

A fita cassete pelo Spotify.

A fita de vídeo pelo streaming.

A TV pelo YouTube.

O livro pelo e-book.

Os anúncios impressos pelo e-commerce.

Os classificados pelo Linkedin (ops, me tornei “Top Voice”!).

As cartas e o fac-símile pelas mensagens virtuais.

Os congressos presenciais pelas lives.

A enciclopédia pelo Google Acadêmico.

O texto pelo post.

O conteúdo pelo… ah, este sempre será um diferencial!

Fui apresentado a terminologias como: algoritmo, startup, call, hackathon, webinar, spam, big data, emoji, backup, pixel, upload, hashtag, inbox e… cringe!

Descobri que “estar na nuvem” não significa apenas sonhar.

E que “viral” é mais do que um termo da medicina, ele também se aplica no marketing.

Passei a ouvir frases como:

“Você está me ouvindo?”, “Você está me vendo?”

“Na minha época”, estas questões eram restritas aos relacionamentos conjugais ou a consultórios psicológicos…

Hoje, estas são perguntas frequentes no mundo corporativo.

Dentro e fora da telinha, independente de onde cada um está.

Mas, enquanto alguns se restringem ao enquadramento padronizado, e ficam à mercê da imprevisível oscilação, outros buscam atualizar o hard e o soft, tornar a comunicação mais segura e implementar uma forte rede de conexões.

Lewis Carroll nos ensina:

“Se você não sabe onde quer ir, qualquer caminho serve”.

O mapa impresso e estático, “da minha época”, cedeu lugar ao palpiteiro GPS; mas sou eu quem continuo tendo a responsabilidade de traçar o caminho que quero seguir.

Posso (e devo) alterar a rota sempre que julgar conveniente.

Não nasci ontem.

Quero continuar me reinventando o tempo todo.

Quero continuar aprendendo e me adaptando.

Quero continuar sendo visto e ouvido.

Quero produzir erros novos e evitar os já cometidos.

Quero ter uma vida saudável, equilibrada e com propósito.

Quero comemorar minhas “Bodas de ouro” e curtir os meus gêmeos, que vão completar 21 anos no dia 22/11/2021.

Ontem, presenciei fatos marcantes da história.

Hoje, troco conhecimentos e experiências com as minhas eternas “crianças”.

Amanhã, espero que se orgulhem do legado que estamos construindo juntos.

Nasci no século passado, mas agora também é a “minha época”. Vivo intensamente cada ano. que também não terminou.

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Achei muito interessante este texto publicado na coluna de Mauro Wainstock na revista EXAME/Bússola

Mauro Wainstock possui 30 anos de experiência em Comunicação. É Linkedin Top Voice, colunista da revista EXAME/Bússola, atua como mentor de executivos sobre marca profissional e é sócio-fundador do HUB 40+, consultoria empresarial focada no público acima dos 40 anos.

A VELHICE PEDE DESCULPAS…

Tão velho estou como árvore no inverno, vulcão sufocado, pássaro sonolento.

Tão velho estou, de pálpebras baixas, acostumado apenas ao som das músicas, à forma das letras.

Fere-me a luz das lâmpadas, o grito frenético dos provisórios dias do mundo:

Mas há um sol eterno, eterno e brando e uma voz que não me canso, muito longe, de ouvir.

Desculpai-me esta face, que se fez resignada: já não é a minha, mas a do tempo, com seus muitos episódios.

Desculpai-me não ser bem eu: mas um fantasma de tudo.

Recebereis em mim muitos mil anos, é certo, com suas sombras, porém, suas intermináveis sombras.

Desculpai-me viver ainda: que os destroços, mesmo os da maior glória, são na verdade só destroços, destroços.

Cecília Meireles ( Brasil – 7/ Nov/ 1901 – 9/ Nov/ 1964 Poeta/Escritora – Brisa e Ventania)

CHEGUEI AQUI…

Para chegar onde cheguei, tive que ser forte, aliás tive que aprender a ser forte e para isso passei grandes tempestades, engoli muita coisa, esqueci outras, passei por cima de tantas e tantas outras. Em determinados momentos me vi obrigada a construir meu próprio muro e ser a minha própria muralha. Se não bastasse, fui obrigada a andar de salto alto com todas as pedras que tinham meu caminho e ainda a driblar todas as outras que me foram aremessadas. Ensinei meus ouvidos a ouvirem somente aquilo que interessava e que fosse útil, ensinei minha boca a falar somente o necessário e quando fosse realmente necessário, meus pensamentos? Guardei, ocultei e escondi em um compartimento onde só eu e Deus temos acesso. Por isso caro (a) amigo (a) não me julgue e nem aremesse pedras, você não viveu o que eu vivi, você não passou o que eu passei, você não sabe o quanto eu tive que combater para chegar até aqui e nem mesmo sentiu na pele o que eu senti. Antes de você falar de mim, volte no tempo e faça a mesma estrada que eu fiz, ai sim, você terá condições de dizer algo a meu respeito. A vida é assim. Está sempre em movimento ⭐️ Recentemente comemorei meu aniversário. Gosto muito de brindar 🙏🏻 🙌🏻 😉 🥂
By Priscilla Rodighiero
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CONFIANDO EM DEUS ⭐️

Eu sempre acreditei que em meio as guerras Deus nos prepara e ensina, e isso eu já pude comprovar em diversas situações da minha vida. Não nascemos prontos, essa é a verdade, e a medida que crescemos, os nossos sonhos crescem junto com a gente, e as nossas batalhas aumentam também. Ao mesmo tempo que a vida nos surpreende, ela assusta, e os nossos passos em direção a tudo que almejamos de bom se tornam perturbadores aos ouvidos dos nossos adversários.

Viver está além de um abrir dos olhos pela manhã e desejar um bom dia a alguém, porque ninguém sabe das nossas lutas particulares, dos nossos compromissos, das nossas contas vencidas, nem tampouco do nosso esforço em se manter sempre firme diante das circunstancias que vez ou outra tentam nos derrubar emocionalmente. Uma das maravilhas que Deus me disse por esses dias foi: Filha, podem puxar o seu tapete, mas o seu chão ninguém tira. Podem te arrancar a força, mas a fé é algo que foi construído entre mim e ti e nisso ninguém pode tocar. O que eu quero que você entenda é que nada que a gente conquista vem de mãos beijadas para nós. Há suor, há choro, há oração, há quedas, há feridas, há uma história que merece ser respeitada e que se ficarmos tão apegados às coisas ruins que tentam nos parar não desfrutaremos do melhor que conquistamos.

Se continuarmos morando no passado, remoendo o mal que o outro nos fez, ou aquilo que não deu certo para nós por um erro que cometemos não alcançaremos o melhor que tanto almejamos. Se desapega do que aprisiona a sua alma, e se dê uma nova oportunidade de ser feliz. Perdoe, se perdoe, e faça a sua vida valer a pena sem carregar pesos desnecessários. Há muito que se construir, há muito que se conquistar. Se levante, e se dê uma chance de recomeçar.

De Cecilia Sfalsin, eu gosto muito 😉

ENVELHECENDO LENTAMENTE…

Uma pessoa envelhece lentamente: primeiro envelhece o seu gosto pela vida e pelas pessoas, sabes, pouco a pouco torna-se tudo tão real, conhece o sginificado das coisas, tudo se repete tão terrível e fastidiosamente. Isso também é velhice. Quando já sabe que um corpo não é mais que um corpo. E um homem, coitado, não é mais que um homem, um ser mortal, faça o que fizer… Depois envelhece o seu corpo; nem tudo ao mesmo tempo, não, primeiro envelhecem os olhos, ou as pernas, o estômago, ou o coração. Uma pessoa envelhece assim, por partes. A seguir, de repente, começa a envelhecer a alma: porque por mais enfraquecido e decrépito que seja o corpo, a alma ainda está repleta de desejos e de recordações, busca e deleita-se, deseja o prazer. E quando acaba esse desejo de prazer, nada mais resta que as recordações, ou a vaidade; e então é que se envelhece de verdade, fatal e definitivamente. Um dia acordas e esfregas os olhos: já não sabes porque acordaste. O que o dia te traz, conheces tu com exactidão: a Primavera ou o Inverno, os cenários habituais, o tempo, a ordem da vida. Não pode acontecer nada de inesperado: não te surpreeende nem o imprevisto, nem o invulgar ou o horrível, porque conheces todas as probabilidades, tens tudo calculado, já não esperas nada, nem o bem, nem o mal… e isso é precisamente a velhice.

Sándor Márai (in ‘As Velas Ardem Até ao Fim’, Hungria

11/ Abr/ 1900 – 22/ Fev/ 1989

Escritor/Jornalista )

VOU ESCOLHER SEMPRE A MINHA VIDA COMO LUGAR DE SEMENTE…

Tem um texto que gosto muito de um amigo – De Valter Hugo Mãe ( Portugal) para Marcelino Freire ( Brasil) – Sentimentos do Ano 2 da Pandemia, que me toca muito e me faz refletir sobre tantas coisa, leia:

Marcelino, tenho medo de voltar ao seu país porque cresci relutante para ser adulto e sei que me mantenho em tantas coisas apenas uma criança. Julgo que saio à rua ainda com a alegria de encontrar alguém com quem, de algum modo, possa pressentir a alegria que existia quando estávamos apenas a brincar. Eu não sei estar sozinho. Não aprecio a solidão, gosto das pessoas e não há como curar minha natureza para gostar delas. Mas agora tenho medo do seu país que eu amo. Fiquei toda a vida sonhando ser português e brasileiro, para pertencer a Machado de Assis e Fernando Pessoa. Sonhei que meu orgulho teria papel passado, como quem casa consciente, dedicado, de amor profundo, para toda a eternidade. Eu não previ este medo. Fico desolado. Estão proibindo as pessoas de serem negras, Marcelino, proibiram de ser mulheres, Marcelino, agora decidiram proibir de ser criança e eu sabia que haveria alguma coisa que ainda me pegaria. Por isso, há muito que eu já brigava pelos negros e há muito que eu já brigava pelas mulheres, eu já brigava pelos viados todos e pelas pessoas sem explicação, tanta gente que só é, sem ter muito como entender ou fazer entender, e quer apenas estar em paz. Eu dei de barato tanta coisa sobre a paz que talvez tenha esquecido de estudar corações, o verdadeiro lugar da guerra. Sou muito despreparado. Passei pelo tempo buscando o deslumbre e vi a melhor versão de cada instante, não vi que medravam no escuro as piores intenções, os ódios que inviabilizam a humanidade. Eu, sinceramente, não vi, Marcelino. Caminhei nessas ruas todas, tantos Estados, tantas capitais, e eu não dei conta desse ódio. Notei os sorrisos, o samba, o jeito generoso das garotas e de alguns garotos olhando para minha pouca beleza, eu notei os livros, tanta Literatura maravilhosa e a obra do Tunga e Artur Bispo do Rosário bordando as vestes para alindar seu encontro com Deus.

Marcelino, no Brasil eu senti invariavelmente que Deus era possível. Sabe quando você se depara com algo perfeito e isso só pode ser graça de uma inteligência superior? Eu vi uma arara azul gigante, devia ter mais de um metro, e ela era mesmo um atributo mágico do mundo, estava livre no cimo de uma árvore na floresta amazônica. Naquele encontro, eu consumei tudo, Guimarães Rosa e Elza Soares, Tarsila do Amaral e Fernanda Montenegro mais Marília Pêra e Walter Salles, e Darcy Ribeiro… mais Heitor Villa-Lobos, e Cartola com Cildo Meireles e Adriana Varejão. Mais Gal Costa e Mônica Salmaso e Paulo Freire lendo a mão de Chico César genial. Eu entendi que Brasil significa beleza e uma profunda esperança. Juro. Parecia uma experiência mística, como se algum espírito me informasse e eu virasse um mensageiro sagrado. Eu elogiei o Brasil em todas as ocasiões porque eu acreditei, e acreditei que minha mensagem era sagrada. Você acha que um espírito me enganaria? Viria sobre mim de propósito para me iludir?

Marcelino, eu não consumei minha adultez, sou apenas um menino, fui sempre ao seu país para encontrar mais amigos e brincar um pouco de ser feliz. Lembra de gostarmos tanto de Manoel de Barros? Eu sei exatamente a razão de gostar tanto da poesia de Manoel de Barros. Ele usa pássaro e amigos e seus versos foram os melhores brinquedos. Minha história é rigorosamente igual. Não tinha muito mais. Pais, irmãos, amigos, os pássaros voando, versos. O lugar de guardar tudo é o verso. O único sentido de ter verso é amar gente e cuidar de pássaro livre. Estão atirando sobre as crianças e alguém me diz que apenas as negras, são apenas as crianças negras, mas eu duvido que parem por aí. Nós, as crianças mais claras não estamos na linha do tiro? Nem que seja por vergonha, vamos morrer também se não dissermos nada, se não fizermos nada. E se as crianças negras viraram proibidas, que legitimidade teremos nós? Sabe, Gilberto Freyre explicou tão certinho que os portugueses são os mestiços da Europa. Eu tenho sangue árabe, africano e europeu. Sou uma porção de cada coisa e minha pena é não lembrar, só minhas células sabem.

Não deixe que acabem com a maravilha do Brasil. Se resistirmos, nossa delicadeza vai ser uma lição resplandecente.
Você sabe a razão para rejeitarem os negros para as periferias? Eu não descobri. As casas do centro não têm tamanho para negros? Eles são maiores? Aumentam quando dormem? Quando sonham? Ficam derrubando paredes, perigando as fundações dos prédios? Eu acho que não. Eu vi um moço entrando na livraria à minha frente, coube na porta melhor do que eu. Você acha que tem alguém obrigando a que ele corra para a periferia depois de pagar o seu livro? Eu não posso acreditar. Que pena que eu não falei com ele, devia ter perguntado. Talvez me contasse de como fica infinito sonhando, ao ponto de perturbar o silêncio, tremer o prédio, causar fumo. Você já pensou se nossos sonhos também fizessem isso? Eu ia querer, Marcelino. Eu ia querer que meus sonhos fossem tão grandes. Mas sonho só com a paz. Estar sossegado com minha família e meus amigos. Notar os pássaros voando. Marcelino, façamos uma jura de não morrer durante o plano de nos matarem. Não somos senão ternuras gigantes, guerreiros açucarados, eu entendi que nós precisamos de um pacto poético para embravecer nossa cidadania. Você, que é meu amigo e escritor que tanto admiro, não me falte nunca desse lado. Cuide de Chico Buarque e de Caetano Veloso, por favor, em qualquer cabeça sã do mundo eles representam o Deus possível. Cuide de Maria Bethânia. De Sônia Braga. Diga a Davi Kopenawa e a Ailton Krenak que a floresta vai sempre amá-los, diga que a arara me garantiu. Marcelino, fico ouvindo Rodrigo Amarante e quase ainda acredito em tudo outra vez (Rodrigo é perfeito. Poderia ser a própria arara). Quase perco o medo. Vista também sua roupa de super-herói e sobreviva. Você tem de manter a maravilha do Brasil. Não deixe que acabem com a maravilha do Brasil. Se resistirmos, nossa delicadeza vai ser uma lição resplandecente, e vamos ficar mais belos que os modelos nos filmes gringos. Vamos, sim, Marcelino.

Haveremos de devolver o futuro às crianças. E seremos sempre futuros também. Só quem desistiu passou a ocupar seu canto no passado. Marcelino, reassumo meu compromisso com a esperança. Vou escolher sempre minha vida como lugar de semente. No meu medo, Marcelino, muita coragem vai germinar.

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https://oterceiroato.com/2020/07/31/destas-pedras-construirei-um-castelo/

A ARTE DE ENVELHECER!

Completar 60, 70, 80 anos de idade, ou mais, e poder comemorar com a família e os amigos é um privilégio, uma bênção. Mas é, também, um bom momento para fazer uma retrospectiva da nossa vida: as conquistas e os fracassos; os sonhos realizados e os que ficaram pelo caminho, enfim, um momento para rever o que carregamos em nossa bagagem, além da família, dos amigos, da fé em Deus, em nós e na vida; além da es- perança, do amor e do desejo permanente de ser feliz.

Mas eis que, sem surpresa, porém um tanto apreensivos, nos damos conta de que a velhice chegou e que estamos deixando para trás a primavera da nossa existência, para dar lugar ao outono. Sem dúvida, nos vemos diante de novos desafios e de uma nova realidade. As limitações vão surgindo, é verdade, mas sentimos um desejo enorme de continuar produzindo e sonhando com outras possibilidades, mesmo que a curto prazo.

Envelhecer é uma das etapas da vida, e cada um chega de um modo pró- prio, de acordo com própria história de vida. Uns com mais saúde, outros com menos; uns com mais conforto e quali- dade de vida, outros com menos. Mas, é com esse cenário que vamos lidar com a velhice, usando nossas experiências, nossa criatividade e nos reiventando a cada dia. E aí, percebemos que vamos precisar, mais do que nunca, da família, dos amigos e da sociedade. É importante aceitar a velhice. Afinal, ter chegado até aqui é uma vitória. E nada contra sentar-se na cadeira de balanço, com uma agulha de tricô ou crochê, com um charuto ou cachimbo, com um bom livro, ou diante da tv para assistir àquele programa favorito. Ou deitar- se numa rede para cutucar a memória e ativar as boas lembranças. Mas isso, só depois de uma caminhada, da aula de dança, de pintura, de música, de culinária ou de natação. Ou mesmo, depois de uma visita a um amigo ou uma amiga, ou alguém da família, para um gostoso cafezinho e um papo agradável.

Pensando bem, envelhecer é uma aventura. “Somente os idiotas se lamentam de envelhecer”, escreveu o filósofo Caio Túlio Cícero. Ele dizia que o importante é encontrar o prazer que todas as idades proporcionam, pois todas têm suas virtudes. A velhice, por si só, não muda o temperamento, o comportamento ou o caráter de alguém. Mas pode ser um gatilho para aqueles que desejam mudar para melhor, na reta final de sua existência. E aí é que nos damos conta de que a vida é curta demais. E para terminar, caros leitores, ve- lhos, idosos, da terceira idade, seja lá como queiram ser chamados, vamos em frente, sem medo, sem preconceito, sem pessimismo e sem pressa; com leveza, tolerância, paciência, paixão e sabedoria. Vamos levar apenas o essencial, aquilo que, realmente, vale a pena. Não é fácil, porque a vida não é nada fácil. Mas o importante é tentar, sempre. Vamos sorrir para a vida, porque ela continua sorrindo para nós.

Veja também: https://oterceiroato.com/2020/07/02/me-reinventando/

https://oterceiroato.com/2020/10/07/setenios-conheca-a-teoria-dos-setenios-de-7-em-7-anos-a-sua-vida-muda-completamente/

INFÂNCIA E TODAS IDADES.

Hoje completo 65 anos 🥂. Passou tudo tão rápido, num piscar de olhos. Esta carta de José Carlos fala sobre a Infância e todas as idades… “Divertida idade” é maravilhosa e me representa muito. Foi entregue a familiares dele quando ele completava 60 anos. Leiam:

A Divertida idade existe, ela acon- tece a partir do nascimento e recebe o nome de infância. O bebê ainda no ventre materno já tem percepções sobre o universo que o cerca e será cenário de sua existência. Os avós se fazem presentes e participam dessa aventura familiar com muita intensidade. Após o nascimento, começa a fase essencial para vivencias que vão permear a vida inteira do ser humano. É nessa etapa em que os sonhos devem ser possíveis e se constroem no imaginário ético e estético, através do despertar da curiosidade, contemplação, exercício da imaginação, fantasia, ludicidade, protagonismo e aprendizagem!

Com experiências significativas que possibilitem a criatividade na ação inter- geracional, e com ludicidade, as crianças interagem e brincam com seus avós, sábios e vividos, que marcam sua infância. A partir de contação de histórias, produção de brinquedos com materiais disponíveis e simples, brincadeiras de rodas e cantigas, manuseios de objetos e álbuns de fotografias da época em que foram crianças, memórias afetivas serão res- gatadas e compartilhadas com os pequenos, criarão repertório e enriquecerão a cultura, a história de vida dessas crianças que tem o privilégio de conviverem com seus avós, que trazem à elas a noção de sua primeira sociedade, no mundo em que atuarão como cidadãos.

Para desenvolvimento saudável dessa infância, o mundo precisa ser visto como Belo, avós podem estar por perto e junto aos pais revelarem aos netos esse mundo onde vale a pena viver. Dessa forma norteando a criação e educação do importante ser para que ele Seja!

Avós também podem colaborar na criação dos netos e exercer seu papel de forma significativa, atribuindo a uma educação humanizada, os pilares que sustentam relacionamentos sociais: tolerância, autonomia, amor e claro, criatividade para quando um desses três falta.

A infância é morada da criatividade! É nessa fase da vida, durante os dois primeiros setênios em que a fantasia e a descoberta se tornam naturalmente mais potentes; é quando o ser humano se constrói e modela sua moral, desperta para autonomia, percebe-se e protagoniza para toda sua existência. Valores éticos, estéticos e poéticos oferecidos nessa experiência concreta, promovem desenvolvimento sensível, evocando importantes pilares na formação da criança.

Avós podem colaborar na criação dos netos e exercer seu papel de forma significativa, atribuindo a uma educação humanizada, que sustentam relacionamentos sociais: tolerância, autonomia, amor e claro, criatividade para quando um desses três falta.

Todos os seres humanos recebem como dádiva uma porção de criatividade. Mas só isso não basta, é necessário desenvolvê-la. As crianças criativas são como crias em seus ninhos, que precisam apreender a voar… para isso deve haver espaço na “casinha de dentro e na de fora”, para desenvolvimento des- sa criatividade na infância, alçando vôs que cheguem perto dos horizontes, coloridos e cheinhos de propósito. Os pequenos criam, percebem, contemplam, sentem, ouvem, cheiram, tocam e pensam, fazem seus experimentos, pesquisam, constroem, vivem! Na condução de um avô como referência, participando dessa infância com ternura e afeto, é possível a construção da criatividade para arte do convívio intergeracional. Esse percurso não poderia ser iniciado em outro tempo, se não na infância! e que seja ela presente em todas as idades, com vozes, risos, versos, poesias e canções, para estar viva em todas as idades.

José Carlos – Uma carta escrita por ele e endereçada aos seus familiares e amigos, que participaram da comemoração dos seus 60 anos.

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https://oterceiroato.com/2020/10/09/adaptando-se-ao-envelhecimento/

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