Que o outro saiba quando estou com medo, e me tome nos braços sem fazer perguntas demais.
Que o outro note quando preciso de silêncio e não vá embora batendo a porta, mas entenda que não o amarei menos porque estou quieta.
Que o outro aceite que me preocupo com ele e não se irrite com minha solicitude, e se ela for excessiva saiba me dizer isso com delicadeza ou bom humor.
Que o outro perceba minha fragilidade e não ria de mim, nem se aproveite disso.
Que se eu faço uma bobagem o outro goste um pouco mais de mim, porque também preciso poder fazer tolices tantas vezes.
Que se estou apenas cansada o outro não pense logo que estou nervosa, ou doente, ou agressiva, nem diga que reclamo demais.
Que o outro sinta quanto me dóia idéia da perda, e ouse ficar comigo um pouco – em lugar de voltar logo à sua vida.
Que se estou numa fase ruim o outro seja meu cúmplice, mas sem fazer alarde nem dizendo ”Olha que estou tendo muita paciência com você!”
Que quando sem querer eu digo uma coisa bem inadequada diante de mais pessoas, o outro não me exponha nem me ridicularize.
Que se eventualmente perco a paciência, perco a graça e perco a compostura, o outro ainda assim me ache linda e me admire.
Que o outro não me considere sempre disponível, sempre necessariamente compreensiva, mas me aceite quando não estou podendo ser nada disso.
Que, finalmente, o outro entenda que mesmo se às vezes me esforço, não sou, nem devo ser, a mulher-maravilha, mas apenas uma pessoa: vulnerável e forte, incapaz e gloriosa, assustada e audaciosa – uma mulher. Adoro este textos Lya Luft, conseguem descrever muito do que sinto.
Os sonhos não determinam o lugar onde vocês vão chegar, mas produzem a força necessária para tirá-los do lugar em que vocês estão. Sonhem com as estrelas para que vocês possam pisar pelo menos na Lua. Sonhem com a Lua para que vocês possam pisar pelo menos nos altos montes. Sonhem com os altos montes para que vocês possam ter dignidade quando atravessarem os vales das perdas e das frustrações. Bons alunos aprendem a matemática numérica, alunos fascinantes vão além, aprendem a matemática da emoção, que não tem conta exata e que rompe a regra da lógica. Nessa matemática você só aprende a multiplicar quando aprende a dividir, só consegue ganhar quando aprende a perder, só consegue receber, quando aprende a se doar.
Ainda pior que a convicção do não e a incerteza do talvez, é a desilusão de um quase. É o quase que me incomoda, que me entristece, que me mata trazendo tudo que poderia ter sido e não foi. Quem quase ganhou ainda joga, quem quase passou ainda estuda, quem quase morreu está vivo, quem quase amou não amou. Basta pensar nas oportunidades que escaparam pelos dedos, nas chances que se perdem por medo, nas idéias que nunca sairão do papel por essa maldita mania de viver no outono.
Pergunto-me, às vezes, o que nos leva a escolher uma vida morna; ou melhor não me pergunto, contesto. A resposta eu sei de cor, está estampada na distância e frieza dos sorrisos, na frouxidão dos abraços, na indiferença dos “Bom dia”, quase que sussurrados. Sobra covardia e falta coragem até para ser feliz. A paixão queima, o amor enlouquece, o desejo trai. Talvez esses fossem bons motivos para decidir entre a alegria e a dor, sentir o nada, mas não são. Se a virtude estivesse mesmo no meio-termo, o mar não teria ondas, os dias seriam nublados e o arco-íris em tons de cinza. O nada não ilumina, não inspira, não aflige nem acalma, apenas amplia o vazio que cada um traz dentro de si.
Não é que fé mova montanhas, nem que todas as estrelas estejam ao alcance, para as coisas que não podem ser mudadas resta-nos somente paciência porém, preferir a derrota prévia à dúvida da vitória é desperdiçar a oportunidade de merecer. Pros erros há perdão; pros fracassos, chance; pros amores impossíveis, tempo. De nada adianta cercar um coração vazio ou economizar alma. Um romance cujo fim é instantâneo ou indolor não é romance. Não deixe que a saudade sufoque, que a rotina acomode, que o medo impeça de tentar. Desconfie do destino e acredite em você. Gaste mais horas realizando que sonhando, fazendo que planejando, vivendo que esperando porque, embora quem quase morre esteja vivo, quem quase vive já morreu.
Entre a infância e a velhice há um instante chamado vida…
Muitas vezes nos esquecemos de viver o presente, deixando passar grande parte da vida.
Quando menos esperar, os momentos podem desaparecer, aquela presença importante pode não fazer mais parte da sua rotina, e o sentimento de desperdiçar o tempo passa a ser constante.
No frenesi dos hábitos de vida atuais, muitas são as pessoas que acabam se perdendo em seus instantes, invertendo valores. Com o mundo cada vez mais conectado, a sensação de urgência foi modificada completamente, fazendo com que passemos grande parte dos nossos dias na frente de pequenas e luminosas telas.
Enquanto rolamos o feed de notícias, passamos a remoer o passado e imaginar o futuro – não que isso não sejam comportamentos normais e aceitáveis, mas fazemos com tanta frequência que acabamos esquecendo de viver o presente. Deixamos minutos ou até mesmo horas preciosas do nosso dia simplesmente se esvaírem pelos nossos dedos, perdendo o efêmero sopro de vida que temos.
Quando somos crianças, sabemos exatamente como aproveitar o momento, e por mais que sonhos e a imaginação façam parte da realidade, sempre são dosadas em quantidades aceitáveis. Quando nos tornamos jovens, ao invés de apreciarmos uma das melhores e mais vigorosas fases das nossas vidas, acabamos presos em uma espécie de “limbo temporal”, em que passamos boa parte do tempo refletindo sobre o que poderíamos ter feito de diferente no passado e conjecturando o momento futuro.
Nunca podemos nos esquecer que são os instantes que fazem com que nossas vidas sejam verdadeiramente especiais, a troca de olhares e de experiências com os outros. O prazer de evoluir como ser humano, de conhecer novos lugares, de descobrir hobbies, de aprender novos idiomas, de crescer profissionalmente. Nada disso se faz preso no passado ou no futuro.
Ainda que nossas lembranças e nossos planejamentos sejam de suma importância, não é neles que devemos passar boa parte do nosso dia. A memória é importante para que realmente aprendamos com nossos erros; assim como a prospecção nos garante certo tipo de controle de nossas vidas. Mas nem um e nem outro podem ser modificados no presente momento.
O que mais vale é ter sabedoria o suficiente para amadurecer e planejar, ao mesmo tempo em que momentos verdadeiros são usufruídos com as pessoas que amamos. Porque é justamente essa passagem pela vida que torna cada pequena fração de segundos tão especial, e não o constante planejamento ou o constante arrependimento.
Se as coisas não saíram como queria, aprenda a se perdoar, porque o perdão não é algo que devemos dar apenas aos outros, mas também a nós mesmos. Aprenda a valorizar sua história, suas marcas de expressão, suas cicatrizes e suas rugas, cada pequena inscrição em seu corpo é um sinal da passagem do tempo e do acúmulo de sabedoria.
Seja bondoso com tudo aquilo que você se tornou, ainda que esteja distante do que tenha sonhado, porque esse corpo e essa existência são únicos. Não importa qual seja sua idade ou sua condição, cerque-se de pessoas e coisas que façam com que se sinta bem, porque a vida é curta demais para perdermos tempo tentando agradar quem mal conhecemos.
Suas origens e raízes precisam ser reconhecidas, valorizadas e enaltecidas, porque foram elas – em grande parte – que te transformaram no que é hoje. A genética é importante, assim como a presença dos nossos familiares, que estão sempre dispostos a nos ajudar em nossos processos de evolução pessoal. As pessoas valem mais que as coisas, e nunca podemos nos esquecer disso.
Pode ser que esses pensamentos só comecem a surgir em sua trajetória quando adquirir certo tipo de maturidade, ou essa busca pessoal pela completa evolução acabe provocando reflexões desse âmbito. Mas isso nunca deve ser visto como um problema, porque somos incomparáveis, somos únicos e cada um vai passar pela vida da forma e no tempo próprios.
Aprenda a viver seus dias de maneira regrada, em equilíbrio. Por mais que alguns excessos sejam necessários para o crescimento pessoal, é a busca pelo centro que nos faz melhores e mais capazes. A beleza da vida está em apreciar seus pequenos detalhes, ao lado de pessoas que nos querem bem, e que têm apreço pela natureza e pelos outros. Agradeça sua existência e não deixe o presente para depois.
Gosto muito desta crônica de Ana Jácamo. E você o que acha? Leiam:
Eu conheço isso que você sente. Essa frequente falta de flor no território do sorriso. Esse cansaço todo que tem hora que bate sem trégua e parece existir pra sempre. Essa ausência da coragem justamente quando é mais necessária. Esse casulo que demora a dizer borboleta.
Eu conheço isso que você sente. Esse medo grande que escapa do controle. Essa tristeza que não melhora fácil nem com coral de passarinhos. Esses dias sem sol. Essa distância enorme entre o que se sente e o que se consegue explicar. Essa lente de aumento que consegue ver tudo muito pior.
Eu conheço isso que você sente. Por isso, sei que às vezes é preciso pedir ajuda e que não há problema algum em pedir.
Trabalho voluntário não é coisa de gente santa. Não é para quem quer mudar o mundo ou ser bem visto. Trabalho voluntário é para quem quer mudar a si mesmo e está disposto a aprender por meio do contato com novos mundos.
É uma excelente ferramenta de empatia, onde o aprendiz ensina mais que o professor.
Voluntariar é transbordar de tanto aprendizado e gratidão, é superar dores e desafios inimagináveis, porque vê na história do outro as bênçãos da própria vida. A nossa maior ligação é humana, feita de respeito e gentileza.
Onde existem voluntários, existe a mistura das cores, das classes, das crenças e de passados. A curiosidade pelo outro alimenta a nossa alma sedenta por sentimentos reais!
Voluntariar é doar amor para curar a dor do outro, e sem saber, descobre que esse é o remédio para curar a nossa própria.
Em todos esses mundos eu encontrei um olhar de gratidão profundo, desses que desconstroem quem achávamos que éramos e faz renascer quem realmente queremos ser nesse mundo.
O tempo passou. Não sei dizer se lenta ou apressadamente. Ou se simplesmente ao seu tempo.
Olhando para trás há tantas memórias, histórias, realizações. Meio século e pouco na medida comum de tempo.
Fiz muito neste tempo. Deixei de fazer zilhões também. Perdi tempo com muitos medos, mas economizei tempo com as certezas. Perdi tempo em muitos vazios. Ganhei tempo com filhos. Gastei tempo trabalhando. Entretanto, ganhei tempo experimentando.
Fui consumida com o tempo de reuniões infindáveis, fui recompensada neste tempo conhecendo gente interessante. Passei muito tempo chorando por amores não correspondidos e ao fim economizei tempo conhecendo aprendendo a reconhecer o caráter das pessoas. Briguei com o tempo para cumprir prazos. Fui premiada com tempo livre ao terminar antecipadamente algumas obrigações.
Com tudo isso, o tempo se incumbiu, ele mesmo, de ditar seu ritmo. Muitas vezes o minuto levava horas. Outras tantas, as horas passavam num piscar de olhos. O que é o tempo, nem sei dizer, mas sei que ele passou. Sinto que sim, confirmo na pele, no espelho e nas fotos. Entretanto, o aguardo incessantemente.
Nesse tempo futuro ainda busco outros tantos tempos. Desejo ter tempo para novas experiências em assuntos nunca antes aventurados, ou naqueles que me justificava em não fazer, argumentando prontamente a falta de tempo.
Quero outro tanto de tempo para descobrir o mundo fora da minha caixa de certezas. Tempo para conhecer novas culturas, pontos de vista originais e diferentes realidades. Tempo para digerir estes novos aprendizados e tempo para florescer internamente com o aprendido.
Tempo para reconhecer tempo ocorrido. Tempo para reconhecer a finitude do meu próprio tempo neste plano.
Este tempo medido em tique-taques é completamente diferente do tempo medido em ritmo cardíaco ou respiradas conscientes. Preciso de algum tempo para definir a medida de tempo que me é mais apropriada.
O tempo do tique-taque é contínuo, igual. Não apressa. Não atrasa. O tempo das batidas do coração é comandado por sentimentos, sustos, incertezas e alegrias. Pode ser louco, desconcertante; e em outras situações, tranquilo e relaxante. Descompassado, dançante. Apaixonado, inebriante. Seu bater inconstante é divertido e assustador. Pode ser visto por todos. Por fadiga, na respiração pesada e no rubor.
Preciso de mais tempo pra conhecer novas pessoas e para manter as queridas até agora. Preciso de tempo para o mar e para amar. Para calmamente olhar para o céu, e, sem pudor dançar na chuva, descalça, rodopiando.
Nesse tempo futuro aproveitar o agora. O presente. Cada tiquinho de tempo como se fosse o último. E, lá na frente, na despedida poder escrever: Sim, meu tempo foi perfeito.
*Publicado em 18/09/2017 no site osegredo.com.br – o tempo passou – by Gicapinica
Clarice Lispector sempre me encanta com o texto: Viver… Apesar de…
Uma das coisas que aprendi é que se deve viver apesar de. Apesar de, se deve comer. Apesar de, se deve amar. Apesar de, se deve morrer. Inclusive muitas vezes é o próprio apesar de que nos empurra para a frente. Foi o apesar de que me deu uma angústia que insatisfeita foi a criadora de minha própria vida. Foi o apesar de que parei na rua e fiquei olhando para você enquanto você esperava um táxi. E desde logo desejando você, esse teu corpo que nem sequer é bonito, mas é o corpo que eu quero. Mas quero inteira, com a alma também. Por isso, não faz mal que você não venha, esperarei quanto tempo for preciso.
Esta crônica de Geraldo Eustáquio de Souza (e Letícia Lanz) eu adoro. Me identifica muito. Leiam:
Existe somente uma idade para a gente ser feliz somente uma época na vida de cada pessoa em que é possível sonhar e fazer planos e ter energia bastante para realizá-los a despeito de todas as dificuldades e obstáculos
Uma só idade para a gente se encantar com a vida e viver apaixonadamente e desfrutar tudo com toda intensidade sem medo nem culpa de sentir prazer
Fase dourada em que a gente pode criar e recriar a vida à nossa própria imagem e semelhança e sorrir e cantar e brincar e dançar e vestir-se com todas as cores e entregar-se a todos os amores experimentando a vida em todos os seus sabores sem preconceito ou pudor
Tempo de entusiasmo e de coragem em que todo desafio é mais um convite à luta que a gente enfrenta com toda a disposição de tentar algo novo, de novo e de novo, e quantas vezes for preciso
Essa idade, tão fugaz na vida da gente, chama-se presente, e tem apenas a duração do instante que passa … … doce pássaro do aqui e agora que quando se dá por ele já partiu para nunca mais!