Os países desenvolvidos enriqueceram e depois envelheceram. Já o Brasil, como os outros países em desenvolvimento, está envelhecendo antes de enriquecer” – afirma a psicóloga e gerontóloga Eliana Novaes Procópio de Araújo, neste artigo de Maria da Luz Miranda, de O Globo, mostrando que devemos enfrentar o desafio de viver numa nação que envelhece rapidamente sem ainda ter desenvolvido seu potencial de enriquecimento. Leia:
Em 2025, o Brasil será o sexto país em número de idosos. Não será pouco, mas as implicações do envelhecimento populacional latente no país vive vai além dos números e não vai esperar para se manifestar. Entre quem entra na categoria idoso aos 60 anos e quem já está adiante dos 80 há muitas nuances e velhices possíveis.
Segundo a psicóloga e gerontóloga Eliana Novaes Procópio de Araújo, professora de degrontologia social do Instituto Sedes Sapienta e doutoranda em Ciências da Saúde na Faculdade de Saúde Publica da Universidade de São Paulo (USP), já experimentamos, atualmente, os conflitos e dificuldades inerentes ao envelhecimento. E é preciso que nos preparemos para uma velhice menos traumática e mais promissora. Há idosos e muito idosos, ela pontua. E é preciso saber viver cada fase assim como dar o suporte a quem está em idade mais avançada.
A longevidade crescente na população brasileira no século XXI pode ser considerada uma conquista social e também um desafio para nossa sociedade, que deixa de ser um país de jovens para ser um país que envelhece. O Brasil, hoje, é “um jovem país de cabelos brancos”. Os países desenvolvidos enriqueceram e depois envelheceram. Já o Brasil, como os outros países em desenvolvimento, está envelhecendo antes de enriquecer.
Você fala em diferentes velhices. Quais seriam?
Devemos entender que o envelhecimento é um processo evolutivo, gradual, universal e irreversível que começa desde do nascimento até a finitude. Temos várias velhices, e cada pessoa idosa é única e deve-se respeitar a sua subjetividade. Assim, o jovem idoso, que tem entre 60 e 80 anos, em sua maioria pode apresentar um potencial latente em competência física e mental e provavelmente um bem estar emocional e pessoal. Esse vigor possibilita, inclusive, o desenvolvimento de novos projetos de vida. Entretanto, o muito idoso, acima de 80 anos, pode apresentar perdas no potencial cognitivo e níveis de fragilidade e disfuncionalidade, além de dificuldades emocionais e possibilidade de quadros de demência. A subjetividade, além do ambiente, de cada um também é determinante para o modo como se envelhece.
Como essas duas gerações podem se interrelacionar de modo que ambas ganhem?
O ideal é que elas troquem experiências e desenvolvam atividades de prevenção. É importante ressaltar que cada idoso terá uma velhice singular. Há muitos velhos em cada um de nós. E esse é um pensamento que deve ser estimulante.
Como você vê, hoje, o tratamento que a sociedade dá aos seus velhos, tenham eles 60 ou 80 anos?
A cada ano, 650 mil novos idosos são incorporados à população brasileira, sendo que grande parte desse contingente apresenta limitações e dependências que necessitam de cuidados constantes, o que representa um grande desafio para a implementação de políticas públicas que garantam esse cuidado.
Como você vislumbra a sociedade brasileira no futuro próximo em relação aos velhos?
A sociedade brasileira está se organizando, mas ainda precisa se receber orientações que a preparem para atender esse novo perfil de idosos e muito idosos. Precisamos de uma educação para a velhice, necessitamos de profissionais especializados em muitas áreas, especialmente em geriatria e gerontologia, por exemplo. Saber envelhecer bem depende da forma que a pessoa vivencia sua vida desde jovem até esse novo estágio de vida que é a velhice.
Que conselhos você dá a quem tem 60 anos sobre a melhor maneira de cuidar de si mesmo ou de seus ascendentes?
Acredito que não existe uma formula perfeita para um bom envelhecimento, mas acredito que cada pessoa, independentemente de sua faixa etária deve dar um sentido à sua vida. E esse sentido pode vir de novos interesses e atividades que sejam afins com a sua singularidade e lhe promovam satisfação. Essencialmente, vamos nos preparar para uma velhice promissora. Não é um conselho. É um convite.