
Me divirto muito com os textos de meu amigo escritor Laerte Temple, sempre bem humorado. Leiam:
Malando que é malando acha que amar uma mulher só é trair todas as outras. Também sabe que, se quiser se dar bem, precisa estar comprometido. Às vezes fica meses sozinho, mas basta casar para chover interessada. Pensa que aliança é um tipo de ímã. Já a mulher de malandro é vacinada. Sabe que o cabra é safado mesmo, que não é fiel e, na dúvida, dá o troco na mesma moeda, de preferência com outro malandro casado, mais fácil para manter segredo e não causar barraco. Desde que ninguém fique sabendo, claro.
Engana-se quem vê preconceito neste texto e acha que esses rolos só ocorrem na malandragem. Vale o mesmo para todas as classes. A diferença está no nome e no ambiente. Em vez de rolo, é caso, ou afair. Em vez de drive-in, é motel, flat ou apê. Chifre é típico do seu humano. Boi usa de inxerido.
Doralice, mulher de João Gilberto, desconfia que ele a esta traindo. Chega em casa tarde, sempre cansado e não a procura mais. Seguiu-o e descobriu que ele esta ciscando Carolina, a caixa do estacionamento, depois do expediente. Queria uma vingança maligna, mas não podia se envolver, pois era casada com separação de bens e não queria ficar na mão. Pesquisou e descobriu que o marido de Carolina era o Chico, vigia noturno no mesmo estacionamento. Ela trabalhava das 9 às 18 e ele das 20 às 6 da manhã. Só se viam aos domingos, e olha lá. Descobriu que o canalha do Gilberto esperava Carolina na esquina, iam no motel e depois deixava a vadia no Metrô.
Ela procurou o Chico na saída do trabalho, convenceu-o a tomar um café e assim que ganhou sua confiança, contou sobre o rolo que descobriu. Disse que Chico devia aplicar um corretivo no marido. Ele cofiou a barba pensativo e disse:

– Dona, se eu der uma coça no cabra, e ele bem que merece, vou ter de chapar a cara da Carolina também. Perco a esposa de fim de semana e a senhora fica na mão. Deve ter um jeito melhor.
– Então você não vai fazer nada?
– Claro que vou, mas pensa. O que falta para mim e para a senhora, sobra pros dois. Eles se divertem e a gente chupa o dedo.
– Entendi. Sabe, você não é nada mal. A gente podia dar o troco na mesma moeda. É só você vir umas duas horas antes para o trabalho.
O arranjo funcionou bem até que um dia Doralice e Chico passaram da hora e João Gilberto e Carolina chegaram mais cedo. Encontraram-se no motel, dois entrando e dois saindo. Os homens se estranharam, começaram a rosnar, mas foram contidos pelas mulheres. Doralice falou:
– Gente, ninguém tá sabendo. Deixa como está.
João Gilberto chegou em casa à noite e encontrou Doralice dormindo. Beijou-lhe a testa, ajeitou a coberta e dormiu. Estava muito cansado.
Veja também: https://oterceiroato.com/2020/10/21/quando-a-gente-vai-embora-ai/
https://oterceiroato.com/2020/08/21/e-preciso-ir-embora-em-muitos-momentos-na-vida/

Ficou tudo na mesma. Será?
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Com certeza mudou tudo. Taparam o céu com a peneira, mas fácil… como muitos. Bom diaaaaaa. Abraços
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As vezes melhor ter paz do que ter razão. Belo texto. Está sumida Bia Perez. Um fraterno abraço do poeta Carvoeiro.
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Cada um escolhe como quer viver. Saudades de Vc também. Abraços
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Perfeito Bia Perez , temos o livre arbítrio. Somos humanos sujeito a erros,. Também estou com saudades de você minha querida amiga. Beijos no seu coração ❤️
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Abraços.
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