A VELHICE PEDE DESCULPAS…

Tão velho estou como árvore no inverno, vulcão sufocado, pássaro sonolento.

Tão velho estou, de pálpebras baixas, acostumado apenas ao som das músicas, à forma das letras.

Fere-me a luz das lâmpadas, o grito frenético dos provisórios dias do mundo:

Mas há um sol eterno, eterno e brando e uma voz que não me canso, muito longe, de ouvir.

Desculpai-me esta face, que se fez resignada: já não é a minha, mas a do tempo, com seus muitos episódios.

Desculpai-me não ser bem eu: mas um fantasma de tudo.

Recebereis em mim muitos mil anos, é certo, com suas sombras, porém, suas intermináveis sombras.

Desculpai-me viver ainda: que os destroços, mesmo os da maior glória, são na verdade só destroços, destroços.

Cecília Meireles ( Brasil – 7/ Nov/ 1901 – 9/ Nov/ 1964 Poeta/Escritora – Brisa e Ventania)

6 comentários sobre “A VELHICE PEDE DESCULPAS…

  1. Minha amiga Bia Perez, está chegando o cinquentenário, as dúvidas são como emaranhados de teias de aranha . As vezes bate aquela alegria, mas as vezes bate aquela tristeza que incomoda pelas incertezas do que está por vim, Mas Deus é meu Porto seguro quando sinto o barco naufragar… Um abraço fraterno do Poeta Carvoeiro

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    • Que benção ser um cinquentenário cheio de vida com bastante saúde, positividade, sonhos e entusiasmo… é isto que nos dá o norte necessário pra seguir feliz sempre em frente. Assusta um pouco no começo, depois vc descobre que não muda nada…. somos os mesmos.
      Temos um longo caminho ainda pela frente, o importante é usar nosso tempo com sabedoria e plenamente.
      Hoje estamos envelhecendo diferente de nossos avós e pais, construindo uma nova maneira de viver mais ativa e cheia de propósitos. As mudanças estão aos poucos surgindo. Um abraço grande meu amigo Carvoeiro. Bom final de semana.

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